Segundo a Daniela Adónis Carneiro do jornal Público, os melhores alunos do secundário não se sentem à rasca. Obviamente que não. Também eu acredito na meritocracia. Ao lermos o pequeno texto, percebemos que o título é bem mais provocador que o próprio conteúdo, isto porque não revela nada, isto é, o texto apresenta-se de uma forma provocadora e quase ingénua, para não falar de falaciosa. Porém, o mesmo consegue e tem potencial de reflexão, e é esta reflexão que o Público não deu mas que eu darei.
Infelizmente não se pensa a educação a longo prazo. Em Portugal pensamos na educação de 4 em 4 anos. Pior que isto é felicitarmos um sistema de ensino em que estão inseridos milhares de jovens, mas que só 4 ou 5 conseguem chegar ao topo. Isto é o típico humanismo burguês. O sistema de ensino é construído para que só alguns consigam singrar na vida. Ficava feliz que o ciclo se inverte-se. Em vez de termos 5 no topo, teríamos 5 na base, isto sim, era motivo de festa e alegria. Para se ser bom é necessário muito trabalho, bons professores, boas escolas, um ambiente familiar óptimo, traduções, materiais didácticos, enfim... aquelas coisas que o ministério ignora.
4 comentários:
O próprio conceito de meritocracia (que alguns evocam como se fosse uma noção totalmente evidente) é um conceito "humanista burguês". Meritocracia significa que só os mais aptos economicamente (que, por esta ordem de razões, não podem estar "à rasca") podem sobreviver neste estado de coisas? Que aqueles crónicos idiotas, podem ser perfeitamente descartados por não atingirem nunca patamares de mérito? E quem define o que é o mérito; a tal maior aptidão para sobreviver aos mecanismos de selecção económica ou outro conceito ideal?
Concordo David! O nosso conceito de educação, isto é, o conceito global de educação passa simplesmente por obedecer às necessidades de grandes grupos económicos. Se a "Sonae" (entre outras) tem falta de gestores, o estado beneficia e dá prioridade aos gestores etc etc, no entanto, todos sabemos que o país tem necessidades básicas, como tradutores, médicos e pessoas em áreas tão importantes como as humanisticas, mas que mesmo assim o estado ignora e "marginaliza". A questão do mérito é pertinente enquanto conceito hermético, mas é utópico porque não contem padrões objectivos e isto de educação é algo subjectivo porque o homem é um caso de subjectividade.
É. A própria banalização até à figura de paradigma da "cultura de mérito" reflecte o modo do sistema contemporãneo mercantil produzir culturalmente (através, nomeadamente, da educação) subjectividades. Se, ao nível de cultura económica - obediência ao dever, responsabilidade, capacidade de assumir riscos... -, estamos afastados uns 100 anos dos países do Norte (Alemanhas, Grâ-Bretanhas e companhia) esta progressiva tendência de selecção económica e este cultivo duma ética meritocrata, criará, certamente, mecanismos económico-culturais de convergência. Desta geração singularmente qualificada e aberta ao mundo sairão decerto uma massa significativa de perfeitos alemães (no sentido dado acimo). Mas será esse o destino e o paraíso reencontrado?
É evidente que o mérito, como já referi, tem que ser levado muito a sério. Mas tem que existir em todas as pessoas que tenham ideias e que consigam contribuir para o desenvolvimento social e pessoal. É essa cultura de mérito que deve ser valorizada num ambiente de liberdade e sem dogmas. ora, não entendo como se pode impor uma cultura de mérito na educação, não sejamos ingénuos. A nossa ideia de educação não é assim tão inovadora, isto é, não estamos aqui a falar de algo impossível. Montaigne, um grande critico da educação da época dele, já dizia que - vale mais uma cabeça bem feita que uma cabeça cheia - e a partir destas premissas percebemos que só não mudamos o sistema porque não queremos, porque quem nos governa está onde está pelo mérito e pelos vistos o mérito não é assim tão importante. A escola, essa coisa, é por si só um espaço selvagem e destruidor da criatividade humana, a escola / educação está a chegar ao limite de saturação e os maus costumes que a própria emancipa. Quantas vezes ouvimos um governo a tentar perceber o melhor caminho para a educação? Quantos debates sérios e cujos resultados fossem verdadeiramente frutíferos? Algum dia viste alguma mobilização da sociedade, sim, da sociedade para discutir a educação? Meu caro amigo David, pior que isso, é veres os professores a manifestarem-se por coisas sem sentido (avaliações, ordenado baixo - ganhamos o mesmo que na Finlândia) enfim... quando os próprios professores, que são os verdadeiros Mestres do conhecimento não se "mexem" então é porque isto está mesmo mal. Enfim... Estamos cá nós :)
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