Todo o ensino da filosofia, principalmente o ensino universitário, apresenta-se como um código acessível a algumas mentes. Ora, segundo o Oxford English dictionary, código; “é um sistema de palavras, letras, figuras ou símbolos usados para representar outros, em especial para fins secretos”.
A filosofia distingue-se de outras disciplinas pelo simples facto de ser um código aberto, isto é, o pensamento criado pelos filósofos não coloca restrições, nem executa licenças de utilização aos seus “utilizadores”, daí todos os dias encontramos pessoas (filósofos) a descodificar (ou a codificar) o pensamento de Santo Agostinho e de outros autores ainda mais antigos. Ou seja, o conhecimento “parece-nos” actual.
O pensamento filosófico deve ser utilizado enquanto estrutura de comunicação e de interpretação. Todos os dias interpretamos sob condição. Esta condição é específica de um produto humano e social. Todos os dias somos pessoas diferentes. Hume, por exemplo afirmava que “um homem sem experiência, nunca faria conjecturas ou raciocínios acerca de qualquer questão de facto; não estaria seguro de nada, excepto do que está imediatamente presente à sua memória e aos seus sentidos” (Investigação sobre o Entendimento Humano). Só assim é que nos podemos enquadrar no tal código aberto, que deve ser o princípio que rege a filosofia e por conseguinte o seu ensino. Formalmente só se ensina filosofia nas escolas e todo este conhecimento é avaliado. No entanto, o que estamos a avaliar é informação e não conhecimento. Porque o aluno não consegue assimilar e relacionar o que absorve com a experiência pessoal. Daí alguma suspeita que vários alunos têm para com a filosofia.
Mas, todos temos lugar na filosofia. Esta deve ser a grande missão. Contudo, torna-se complicado chegar a todos os campos da filosofia quando existe na estrutura da própria um cepticismo burguês.
A ideia de uma autoridade filosófica só compromete o próprio ensino da mesma, visto que o produto humano e social que a tenta alcançar não suporta a mesma perspectiva a quando da criação do conceito.
É assim, necessário que o conhecimento da realidade exterior seja aplicado ao aluno filosófico.
Há lugar para todos na filosofia. Da filosofia para crianças ao aconselhamento filosófico, todos aqueles que nutrem categorias podem contribuir para o código que é a filosofia. Mais; o órfão sensível dará um belo intérprete de Camus e, o romântico - apaixonado pode ensinar melhor que ninguém a filosofia Agostiniana na época do maniqueísmo.
Na didáctica da filosofia ou filosófica, dá-se importância a “um” pensador, quando a realidade do mesmo é diferente da realidade portuguesa. Não é possível ensinar a ensinar filosofia. Este paradoxo é impreterivelmente uma perda de tempo. Talvez porque a democracia ao nascer do exercício filosófico, tornou-se ela numa “coisa” muito pouco democrática.
Já Dewey tinha percebido isto há muitos anos atrás. Dewey manifestava um desagrado mal-estar pelo ensino tradicional. É curioso referir a relação que Dewey fez do conceito de escravo em Platão: “como sendo a pessoa que, nas suas acções, não expressa as próprias ideias, mas sim as doutrem”.
Se tivermos em conta um ensino da filosofia em código aberto, conseguimos todos contribuir para todas as áreas em que a filosofia é abrangida. Assim, as avaliações académicas acabavam, isto é, a ideia de quantificar de 0 a 20 o conhecimento (quando na realidade estamos a avaliar informação) de um aluno era logo posta de parte. Porque todos nós somos bons nalguma área da filosofia.