Alain de Botton esteve presente no dia 14 de Novembro, em Lisboa, numa conferência organizada pela companhia de seguros - Fidelidade Mundial. O tema que explorou - Inovar a reforma. Um apelo a todos nós - pretendeu sensibilizar, os presentes, para os efeitos ou consequências da nossa contemporaneidade.
Isto é, somos educados a viver segundo uma expectativa assente em princípios que não existiam em gerações anteriores.
Existe a ideia que somos aquilo que fazemos e isso transporta-nos para ideais únicos de auto representação, ou seja, os modelos morais alteraram-se e as nossas prioridades limitaram-se. Somos mais felizes? Somos pessoas realizadas?
Aqui fica o belo contributo, de Maria das Dores acerca desta bela conferência:
Nos últimos 20 anos houve um declínio de “quem olha por nós”
(o Estado a Igreja, etc), daí ser cada vez maior a necessidade de fazermos
ajustes psicológicos que nos preparem para a reforma.
No entanto, a
sociedade não nos ensina a transferir o conhecimento de geração em geração,
implicando que cada geração tem de reaprender tudo de novo, (sendo um
desperdício de tempo) nomeadamente sobre o que significa “ser velho” e o
significado da reforma (“wisdom” é o principal que temos de salvar para a nossa
reforma).
O problema está em
que na sociedade atual (ao contrário do que sucedia até aqui) os 2 principais
valores são o Trabalho e o Amor, sendo que todos queremos ser bem sucedidos
nestas duas áreas. Contudo, é cada vez mais difícil sermos bem-sucedidos nestes
2 campos.
Em relação ao Trabalho isso acontece porque ele
distancia-nos cada vez mais da relação com os outros e da sensação de que
estamos a servir os outros, isto é, a contribuir para o seu bem estar ou alivio
da dor, que são os 2 principais motivos que levam a que as pessoas se sintam
recompensadas pelo que fazem em vez do dinheiro (como a maior parte das pessoas
pensa “quem trabalha apenas para ganhar dinheiro é escravo”). De fato trabalhar
nas grandes empresas implica que as pessoas são cada vez mais especialistas de
coisas muito específicas limitando a sua visão do todo. Somos todos “experts”
numa coisa muito específica e perdemos o contato uns com os outros e a tal
sensação de servir o outro, que é o que nos dá satisfação!
Para além disso, as pessoas querem ter um trabalho
interessante que lhes permita serem criativas, que seja tão interessante, que
elas nem queiram nunca ir de férias, com “meaning”, sendo que a maior parte das
pessoas não quer parar de trabalhar mesmo que tenha dinheiro que o permita
fazer.
Enfim, parece que estamos destinados, ou a ter uma profissão
que dê dinheiro, mas que não tenha significado ou a ter uma profissão com
significado mas com a qual não conseguimos subsistir, como é o caso da
filosofia, pois esta ainda não está bem aplicada à prática diária.
Em relação ao Amor, as pessoas querem “casar” com quem amam
(algo impensável até aqui, em que os casamentos eram arranjados pela família,
com base em classes sociais, etc, só a partir do sec. XVIII surgiram estas duas “ideias malucas”).
Epicuro diz que a felicidade vem de 3 coisas:
Amizade / comunidade (a tal necessidade de nos conectarmos)
Liberdade da autoridade (não ter “patrão”)
Pensamento (reflectir constantemente sobre a nossa vida).
No entanto, apesar de
ser uma missão difícil, a sociedade continua a dizer-nos que é possível sermos bem-sucedidos
nestas duas áreas e isso coloca-nos uma pressão acrescida, pois temos
consciência de que é algo que existe, mesmo se não estamos a conseguir lá
chegar.
O fato de hoje em dia acreditarmos sermos os autores da
nossa biografia deixa-nos em mão com uma grande pressão. Ex.: se estou desempregado,
é porque sou um inutil, é porque o mereço. Isto potencia depressões e
suicídios.
A comparação que fazemos a todo o momento uns com os outros
(os pares) traz-nos infelicidade. Se formos crentes em Deus ou “amantes da
Natureza” conseguimos perceber melhor a nossa pequenez e a nossa humildade
aumenta, fazendo-nos perceber que não podemos nunca substituir Deus/Natureza,
que não controlamos nada. Uma sociedade só com heróis humanos traz problemas
psicológicos, porque temos excessivamente uma noção de controlo que depois se
perde na reforma e aí não temos substitutos para lidar com isso.
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