sexta-feira, novembro 16

Inovar a reforma. Um apelo a todos nós - Alain Botton em PORTUGAL

Alain de Botton esteve presente no dia 14 de Novembro, em Lisboa, numa conferência organizada pela companhia de seguros - Fidelidade Mundial. O tema que explorou - Inovar a reforma. Um apelo a todos nós - pretendeu sensibilizar, os presentes, para os efeitos ou consequências da nossa contemporaneidade.
Isto é, somos educados a viver segundo uma expectativa assente em princípios que não existiam em gerações anteriores.
Existe a ideia que somos aquilo que fazemos e isso transporta-nos para ideais únicos de auto representação, ou seja, os modelos morais alteraram-se e as nossas prioridades limitaram-se. Somos mais felizes? Somos pessoas realizadas? 
Aqui fica o belo contributo, de Maria das Dores acerca desta bela conferência:

Nos últimos 20 anos houve um declínio de “quem olha por nós” (o Estado a Igreja, etc), daí ser cada vez maior a necessidade de fazermos ajustes psicológicos que nos preparem para a reforma.
 No entanto, a sociedade não nos ensina a transferir o conhecimento de geração em geração, implicando que cada geração tem de reaprender tudo de novo, (sendo um desperdício de tempo) nomeadamente sobre o que significa “ser velho” e o significado da reforma (“wisdom” é o principal que temos de salvar para a nossa reforma).
 O problema está em que na sociedade atual (ao contrário do que sucedia até aqui) os 2 principais valores são o Trabalho e o Amor, sendo que todos queremos ser bem sucedidos nestas duas áreas. Contudo, é cada vez mais difícil sermos bem-sucedidos nestes 2 campos.
Em relação ao Trabalho isso acontece porque ele distancia-nos cada vez mais da relação com os outros e da sensação de que estamos a servir os outros, isto é, a contribuir para o seu bem estar ou alivio da dor, que são os 2 principais motivos que levam a que as pessoas se sintam recompensadas pelo que fazem em vez do dinheiro (como a maior parte das pessoas pensa “quem trabalha apenas para ganhar dinheiro é escravo”). De fato trabalhar nas grandes empresas implica que as pessoas são cada vez mais especialistas de coisas muito específicas limitando a sua visão do todo. Somos todos “experts” numa coisa muito específica e perdemos o contato uns com os outros e a tal sensação de servir o outro, que é o que nos dá satisfação!
Para além disso, as pessoas querem ter um trabalho interessante que lhes permita serem criativas, que seja tão interessante, que elas nem queiram nunca ir de férias, com “meaning”, sendo que a maior parte das pessoas não quer parar de trabalhar mesmo que tenha dinheiro que o permita fazer.
Enfim, parece que estamos destinados, ou a ter uma profissão que dê dinheiro, mas que não tenha significado ou a ter uma profissão com significado mas com a qual não conseguimos subsistir, como é o caso da filosofia, pois esta ainda não está bem aplicada à prática diária.
Em relação ao Amor, as pessoas querem “casar” com quem amam (algo impensável até aqui, em que os casamentos eram arranjados pela família, com base em classes sociais, etc, só a partir do sec. XVIII surgiram  estas duas “ideias malucas”).
Epicuro diz que a felicidade vem de 3 coisas:
Amizade / comunidade (a tal necessidade de nos conectarmos)
Liberdade da autoridade (não ter “patrão”)
Pensamento (reflectir constantemente sobre a nossa vida).
 No entanto, apesar de ser uma missão difícil, a sociedade continua a dizer-nos que é possível sermos bem-sucedidos nestas duas áreas e isso coloca-nos uma pressão acrescida, pois temos consciência de que é algo que existe, mesmo se não estamos a conseguir lá chegar.
O fato de hoje em dia acreditarmos sermos os autores da nossa biografia deixa-nos em mão com uma grande pressão. Ex.: se estou desempregado, é porque sou um inutil, é porque o mereço. Isto potencia depressões e suicídios.

A comparação que fazemos a todo o momento uns com os outros (os pares) traz-nos infelicidade. Se formos crentes em Deus ou “amantes da Natureza” conseguimos perceber melhor a nossa pequenez e a nossa humildade aumenta, fazendo-nos perceber que não podemos nunca substituir Deus/Natureza, que não controlamos nada. Uma sociedade só com heróis humanos traz problemas psicológicos, porque temos excessivamente uma noção de controlo que depois se perde na reforma e aí não temos substitutos para lidar com isso.

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