terça-feira, dezembro 26

Perpetuem-se.

Voando sobre os ninhos de uma ave pequena, o homem sussurra palavras amistosas de silêncio confuso. Quem mais poderá viajar se não souber o caminho? Anteontem todos morriam de sede e de calor, mas o intenso orvalho que das nuvens permanecia fugitivo de harmonia, nada mais se manifestaram sem que o Homem os alcançasse.
Ternas mãos rudes de veios sapientes mexiam no ninho de avestruzes. Como eram grandes, as mãos.
As águias afugentadas pelo ódio do não querer viver consoante a misericórdia da dádiva, viraram-se mortalmente sob o profundo e triste magistral silencio do branco supérfluo da inquietação penetrante da vida.
- Que miséria!
- Que paixão!
Soltai os patos e as andorinhas que tanto voam para mostrarem uma vez mais que existem para que se saiba da ainda liberdade da morte. Mas para se escolher, tem que se saber da vida.
O sol não poisa, avança em linha recta, nós, mortais, é que circulamos numa vida consciente, mas circular.
Perpetuem-se.

terça-feira, dezembro 19

Proposta de Rem Koolhaas para uma nova bandeira da União Europeia (2004)

sexta-feira, dezembro 8

“Être et avoir”

Nicolas Philibert assina uma obra de verdadeiro destaque pedagógico. O filme – documentário “Être et avoir” (Ser e Ter) revela uma substância de cariz puramente virtuoso. Os sentidos prendem-se com as paisagens de Auvergne – França, e com uma paciência quase perfeita de um professor em pré reforma. A questão mais surpreendente deste documentário não é tanto a questão do tempo e dedicação do professor e aluno, mas sim o fascínio por uma “raça” em vias de extinção.
Os prémios arrecadados são a prova de que a sociedade por mais perdida que ande, reconhece o bom trabalho, ou seja, a vocação. Falar de vocação, de entrega e partilha continua a ser tabu na sociedade em geral.
Por exemplo nas universidades, aproveitam-se as melhores médias para meter pessoas que não estão verdadeiramente ligadas à pedagogia, ou seja, se a pessoa é dotada de uma capacidade de raciocínio elevada então que vá para investigação, se um professor reconhece um certo talento no aluno então deverá ser ele o pioneiro em indicar (como Mestre) um caminho vocacionado para essa mesma pessoa. De facto “existe falta de sanguinidade” tanto nas universidades como em qualquer outro patamar laboral do nosso país, mas no mundo também.
Este documentário tem uma carga emocional muito elevada, mas comprova que existem vocações, que existe amor na arte, porque, quando se é bom, é-se mesmo bom, mas para isso, falta descobrir onde é que se é bom. Enquanto não descobrimos, ou temos medo de arriscar onde seremos bons, alguém tem que sofrer. Enquanto houver ordenado, daqui não saio.

domingo, dezembro 3

Opus VIII

Quem consegue concordar com os poetas da vida? Sim senhor; somos todos a vida que não controlamos.
Existem personagens para tudo, todos poderíamos ser tudo. As personagens que encaramos num olhar de amargura e instantes de prazer absurdos e calmos, são o que são, mas nunca o são na perfeição. Porque razão, tentamos olhar o outro sem que o alcancemos. Temos que o delimitar. Temos que entrar no silêncio, e porquê? Para não mentir, para não sermos mais uma personagem. Hoje tentamos matar a vida, mas a vida física constrói-se a cada momento dessa mesma atitude impiedosa que se chama vulgar.
Andamos confusos porque tudo muda, a cada caminho que cruzamos todos os sinónimos alteram-se, mas a essência permanece, e essa essência não compactua com o relógio que corre e a água que toca. Hoje seremos mais um Don Juan que não busca o amor total, mas aquele mortal que busca o prazer da entrega e da partilha. Se em pequenos instantes conseguirmos olhar o universo da revolução com o espírito da verdadeira liberdade, então conseguimos, descobrir a verdadeira liberdade. Chamemos-lhe neo – liberdade, porque só aqueles que conseguirem olhar nos instantes vulgares dos aspectos mais vulgares da vida e conseguirem imaginar o seu espírito nesse mesmo momento vulgar então é porque existe a possibilidade de uma existência vulgar, mas cabe aos neo – libertos, o dom de o não escolher completamente. Sejamos, sejamos… bons nos aspectos que vimos e gostámos, mas sejamos, sejamos libertinos nos aspectos que vimos, ignoramos, mas não reflectimos na possibilidade de esse mesmo momento ser nosso, e o outro ser o que eu poderia ser, e o que eu sou, ser uma saudação da ironia, da nossa neo – liberdade.
Sintam e sintam-se bem, mas não se sentem, porque acabariam no lamento da preguiça mortal da antiga liberdade.

sexta-feira, dezembro 1

Humor. Uma obra sob a forma de fragmentos

Ao entrar na aula disse: “ Quem terá sido a pessoa que ocupou o meu habitual lugar?”, -Maldita seja ela! Apareceu assim do nada, como devaneio de um sentimento já aguçado de insipiência perpetua, maldita.
Abalou as estruturas do pensar, mas também do agir, quem diria? Quanta mais raiva pode surgir do meu coração puro, que afinal de puro nada tem, mas tenta todos os dias ou ao deitar, depende do bagaço que o Sr. Horácio oferece, tudo depende de tudo, de algo, dos sentidos mas também das formas, e que formas, eu que o diga. As formas são o elixir do meu sentir e da minha ilusão. Pois é, tanta perfeição que paralelamente foge de mim. Fui viradinho a ela, e exclamei em voz profunda e maquiavélica: “ Quem és tu?”. Sou a força das águas, a anarquista que cintila onde quer que seja – diz ela como que protegesse um castelo de princesas e dragões - e quem és tu, que me perturbas neste momento? Eu, sou um mago! Que mata com medo, que sobrevive a todas as guerras, sou o ser que Deus criou num tempo onde o humor reinava nos homens…