domingo, dezembro 3

Opus VIII

Quem consegue concordar com os poetas da vida? Sim senhor; somos todos a vida que não controlamos.
Existem personagens para tudo, todos poderíamos ser tudo. As personagens que encaramos num olhar de amargura e instantes de prazer absurdos e calmos, são o que são, mas nunca o são na perfeição. Porque razão, tentamos olhar o outro sem que o alcancemos. Temos que o delimitar. Temos que entrar no silêncio, e porquê? Para não mentir, para não sermos mais uma personagem. Hoje tentamos matar a vida, mas a vida física constrói-se a cada momento dessa mesma atitude impiedosa que se chama vulgar.
Andamos confusos porque tudo muda, a cada caminho que cruzamos todos os sinónimos alteram-se, mas a essência permanece, e essa essência não compactua com o relógio que corre e a água que toca. Hoje seremos mais um Don Juan que não busca o amor total, mas aquele mortal que busca o prazer da entrega e da partilha. Se em pequenos instantes conseguirmos olhar o universo da revolução com o espírito da verdadeira liberdade, então conseguimos, descobrir a verdadeira liberdade. Chamemos-lhe neo – liberdade, porque só aqueles que conseguirem olhar nos instantes vulgares dos aspectos mais vulgares da vida e conseguirem imaginar o seu espírito nesse mesmo momento vulgar então é porque existe a possibilidade de uma existência vulgar, mas cabe aos neo – libertos, o dom de o não escolher completamente. Sejamos, sejamos… bons nos aspectos que vimos e gostámos, mas sejamos, sejamos libertinos nos aspectos que vimos, ignoramos, mas não reflectimos na possibilidade de esse mesmo momento ser nosso, e o outro ser o que eu poderia ser, e o que eu sou, ser uma saudação da ironia, da nossa neo – liberdade.
Sintam e sintam-se bem, mas não se sentem, porque acabariam no lamento da preguiça mortal da antiga liberdade.

5 comentários:

Anónimo disse...

Pois, delimitamos o outro, tentamos esgotá-lo colocando-lhe um rótulo. Assim fechas-te ao outro, não o acolhes, antes tentas transformá-lo em teu súbdito, num clone de ti. Não vês que quanto mais diferente é o outro de nós, mais fascinante ele se torna?

Guilherme Castanheira disse...

"Temos que o delimitar", e para quê? precisamente para o tornar "virgem" na sua essencia.
A ideia é: olhares, por exemplo, para um bancário, imaginares que podes tu tb ser um bancário, e decidires se queres ou não ser bancário, ou então, olhares para um varredor e imaginares.t a ti mesmo a varrer e escolheres que não é esse o teu caminho...
a ideia, é sempre a do caminho...
Mas... isso, sabes tu.
vamos mais longe...
tu sofres, por vezes sofremos, e decidires se queres contemplar o sofrimento ou sair dele mesmo. "o futuro é uma mentira para o homem se manter vivo", com mentira ou sem mentira, vejo que não quero sofrer, quero ser feliz, tal como a "maioria" do universo.
O outro... é um bonus da nossa existencia, é a plenitude da diferença que nao deve ser alargada a um "capitalismo selvagem" do proprio ser, o outro é intocavel. do outro só interessa a experiencia ou roteiro que nos ajuda (bonus) a mentir (futuro) para que finalmente subamos à nossa plenitude existencialista.
"filho és , pái serás..." ou seja: estrangeiro ajudast, estrangeiro te tornast.

Sem medo :P

Anónimo disse...

Sabes, uma excelente forma de fugirmos do confronto connosco mesmos é estar sempre a avaliar os outros, a censurá-los, a criticá-los...´Já ouviste falar de projecção?

Guilherme Castanheira disse...

Já!

Estou a assistir a uma :P

Anónimo disse...

Não tenhas medo... Não dói nada. Tu consegues!