quinta-feira, janeiro 25

Caro Mestre Nietzsche (2-10)

Muito obrigado pelas suas atenciosas palavras de conforto, é nesta distância verbal e corporal que só as palavras fazem sentido, só as palavras constroem a acção do imaginário, e neste preciso caso, da saudade e do conforto, que tanto preciso. Mas deixo o lamurio do meu presente – passado para quando nos reunirmos em alegria e eternidade, será belo, belíssimo, assim o espero.
Amigo, o que lhe proponho no seguimento deste pequeno desabafo tem a ver com a submissão. Infelizmente a nossa civilização está condenada a um preconceito chamado: Conhecimento. Lembro-me de certa altura ter afirmado que: “ vivemos, seguramente, graças ao carácter superficial do nosso intelecto, numa ilusão perpétua: temos então para viver, necessidade da arte a cada instante.” Sim, e é essa mesma arte que ignoramos todos os dias. Por exemplo na minha terra Natal, Santa Comba Dão, as pessoas podem ser explicadas pela seguinte expressão: “Como burros a olhar para um palácio”, e isto porquê, porque lhes falta a sensibilidade da criação. Com isto afirmo piamente que qualquer politico e educador em Portugal é uma circunstancia – superficial, dado que ensina o – outro de uma maneira mecanicista e tecnicista, sem paladar cor ou alento. Vivemos no “mercado” de um conhecimento desesperado. As pessoas tentam devorar sem sentimento uma pérola inigualável, talvez por isso, é que, e peço desculpas pelo atrevimento, é que os seus escritos foram tão mal interpretados, o que deu origem a muitos desastres humanos.
Se hoje viajo até ao México para ver a cultura, ou o que resta dela, é porque tenho sensibilidade e um apetite saudável por tal, mas será que os antigos habitantes dessa mesma cultura teriam a “sabedoria” de apreciar uma aparência duplamente necessária? Duplamente, dado ao conteúdo da contemplação (e lembro-me por exemplos das pirâmides) e ao mesmo tempo do funcionalismo? Se calhar o melhor exemplo é mesmo o da civilização grega e romana, cujas analogias o Senhor tão bem as rutilava. Só assim se percebe o porquê da sua destruição. Lamento, mas a minha civilização está prestes a cometer o mesmo erro.
Somos submissos a um governo que não conhece o seu “povo”, que não se conhece a si mesmo, o abismo é a actualidade. Resta a imagem da aparência, da sobrevivência, eis a minha, a nossa metamorfose.

Saudades G.

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