quinta-feira, janeiro 3

Opus XV


- É tão pesado!
- O quê?
- Amar alguem!
- Amar como?
- Sei lá, amar!
- Mas... Amar, no sentido, de namorar alguem?
- Sim.
- O que aconteceu?
- Não sei. Acho que deixei de Amar.
- Acabaste com a tua namorada?
-Também!!
- Também??
- Acabei com ela e comigo.
- Mas isso não é possível. Simplesmente estás deprimido.
- Estou mais do que isso.
- Mas o que se passou?
- É daquelas coisas que todos buscam mas que no meu caso, é um verdadeiro tormento, não suporto o peso da angustia amorosa.
- Mas ainda gostas dela?
- Não é isso... simplesmente sinto que não é Ela, mas gostava que fosse. Por um lado dá-me condições para ser feliz, mas por outro prende-me na incerteza de mim mesmo.
- Entendo-te. Gostavas de ter um bocadinho dela.
- Mais ao menos. Sinto-me como a narração de Helena de Tróia. Uns querem-na possuir, outros só a querem contemplar. O final já tu sabes. Vem a guerra, e eu não me sinto nenhum Aquiles.
- Pois, coitado, até esse morreu.
- Morreu feliz?
- Pois... não sei.
- Pois.

5 comentários:

Anónimo disse...

Real demais, sentido. Perfeito.

Estas de volta e em grande, sem medo!

Marco disse...

Será que o Páris morreu feliz?

Anónimo disse...

"Durante toda a vida, eu não podia sequer conceber no meu íntimo outro amor, e cheguei a tal ponto que, agora, chego a pensar por vezes que o amor consiste justamente no direito que o objecto amado voluntariamente nos concede de exercer tirania sobre ele."
Fiódor Dostoiévski

Tudo nos pesa, seja amor, seja outro sentimento que for, somos muitas vezes o que não queriamos ser.

Com o passar dos anos, com os amores que vamos vivendo percebemos que o amor é mais simples do que se "aparece", quanto mais julgamos, menos amamos, talvez porque aí nos afastamos.

Tu nao deixaste de amar, deixaste de "a" amar, é simples!
"acabar" também não será um termo correcto. Se "ela" não é Ela então não deverias sentir o "peso", pois será que existe mesmo "a Tal"??

Ou será que estamos demasiado "absovidos" pelos romances hollywoodescos?

Mas possivelmente isso é um simples exercício literário, muito bem escrito, se calhar tão bem que pode ser a história que qualquer um de nós.

Anónimo disse...

a "namorada", essa continua de mãos dadas contigo. continuas a amá-la, a desejá-la e é para "ela" que vives. para seguires para a guerra que procuras, sente-te antes odisseu - ulisses - foi para isso que nasceste e é para isso que "ela" te segue.
('opus XV', esta ou outra - texto científico, sempre, improviso eu).

Anónimo disse...

Deixa de ser complexo.
Porque não te tornas "uma tendência simplicista"?