O comboio está para mim como o avião para um açoriano ou o metro para um lisboeta.
Há algo de cândido em ter uma estação vazia. É neste espaço, nesse condomínio de aço que tenho tempo para escrever, ler, pensar e reflectir.
Junto à janela do comboio temos dois tipos de noção visual; a veloz e a lenta.
Em movimento, a que está mais perto do nosso campo de visão é rápida e quase impossível de tomar atenção, mas a distante, essa permite contemplar, analisar e apreciar como quem aprecia uma bomboca de morango.
As relações humanas, por vezes, são como uma viagem de comboio. Quando estamos muito perto -muito tempo- dessa pessoa, perdemos a percepção do pormenor, da forma, mas a distancia, essa grande aliada, ajuda-nos a compreender a diferença que os nossos sentidos não acompanham com o simples olhar.
Esta contemplação só é perceptível quando se está em lados opostos, i.e, existe o contemplador e o (a) contemplado (a). O ideal seria fazer a viagem em conjunto, onde ambos olhavam pela mesma janela, nem de frente nem de trás... lado a lado.
Isto sim, é viajar de comboio.
Sem comentários:
Enviar um comentário