sexta-feira, janeiro 7

”Regras para um Parque Humano” de Peter Sloterdijk (1/2)

Depois de ler este livrinho (porque é pequeno) do senhor Peter Sloterdijk fiquei entusiasmado, e decido assim partilhar. Para quem me acompanha desde sempre no blog, irá entender certamente, o teor desta belíssima obra que serviu de mote a uma conferência que o próprio deu no Castelo de Elmau, na Baviera, a 17 de Julho de 1999 faço assim, uma síntese dividida em duas partes.


Primeira parte: A Educação, como princípio transformador de uma sociedade, o inicio do Humanismo. [e Porque falhou o Humanismo?]
Peter Sloterdijk inicia assim a obra: “Os livros, disse uma vez o poeta Jean Paul, são cartas volumosas dirigidas aos amigos.” O Homem é um ser naturalmente pulsante[i], age por pulsão do seu instinto selvagem. Segundo o Humanismo clássico - “a boa leitura amansa.” Inicia-se o período de alfabetização, isto é, de humanização. O homem sai da caverna, sai da menoridade e vai ao encontro da luz. Um defeito deste modelo humanizador é que separa socialmente os que sabem dos que não sabem. O conhecimento é transformado em poder.  No humanismo clássico, o homem virtuoso é aquele que é sábio. Surge aqui um humanismo burguês, porque seria uma elite a comandar o fenómeno chamado humanização.
Na Modernidade o humanismo torna-se ele partidário e faccioso. Destacam-se três correntes: Cristão, Marxista e Existencialista. Idealmente o humanismo, que parecia ser um acto de amor, livre e calmante para servir de antídoto à pulsão humana, tornar-se-ia a médio prazo um modelo escolar e educativo que foi ultrapassado porque se tornou insustentável a ilusão de que as estruturas políticas e económicas de massas possam ser organizadas segundo o modelo amigável das sociedades literárias. O grande drama que Sloterdijk insinua é a pretensão que existe em construir uma sociedade em que o Homem seja domesticado, o que parece mais grave são as formas e métodos que muitos teóricos afirmam como ideal nesta construção de um estado social, aliás, de um parque, como se de um zoológico se tratasse, o poder de queres domesticar as ovelhas de um rebanho onde só existirá um pastor.
Como terminaria o humanismo clássico? Ora, as sociedades litúrgicas, os eruditos e os fãs dos cânones perderam influência. Aquele que se tornara pastor, isto é, o politico, o que manda, deixara de ser o sábio intelectual e domesticado. Deixou de haver uma sociedade de sábios, passando a existir uma sociedade de políticos, de gestores do património do estado. O Humanismo passou a ser encarado como uma aculturação, devido é certo, a uma crise de saberes canónicos.
Segunda parte: A essência do Humano. Heidegger em modo existencial
Heidegger propõe que deixemos de lado o humanismo como forma de educar o homem. O ideal de uma sociedade alfabetizada e literária chegou ao fim. Segundo ele, o humanismo moderno desvirtuo o homem no seu sentido mais profundo. Depois da segunda grande guerra, seria necessário examinar de forma diferente o próprio ser (dasein), seria necessário dar um sentido aberto ao homem visto que se manifesta na realidade da existência. O problema do mundo estava no próprio homem era necessário olhar só para o homem. “O homem habita na verdade do ser.”[ii]
Para Peter Sloterdijk o ideal que Heidegger tenta construir para um melhor entendimento entre o homem e a sua existência é totalmente absurdo e inconsequente, na medida em que estaria perante um “inumanismo”, ou seja, deixamos de ter presente um campo pedagógico, para passarmos a estar num campo puramente onto – antropológico, isto quer dizer; o homem aprende por ele mesmo, através da “reflexão” do ser com o próprio ser. Se o Ser é o todo em si mesmo, e a linguagem a sua morada então estaríamos automaticamente domesticados, aliás, seriamos todos puros e bons, porque não haveria acção nem confronto, dado que seriamos “autistas” dentro de um mundo “autista”.


[i] Harder, Yves-Jean, La Pulsion à Philosopher, 2006
[ii] - AA. VV., Logos, Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 2.º Vol., Lisboa/São Paulo, Editorial Verbo, Janeiro de 1990, p. 1059


1 comentário:

Titá disse...

Olá Guilherme,
que bom "rever-te" lá na minha janela.
Obrigada pelas tuas palavras.
Continuas a brindar-nos com excelentes pensamentos, excelentes textos, aos quais é impossivel ficar indiferentes e os quais nos exigem reflexão.
Bom ano!