quarta-feira, janeiro 21

O Milagre, a Sorte e a Experiência

Não há nada mais interessante e comovente que a sobrevivência. A sobrevivência é por si só um tema que vende muitos livros, é também um tema que liricamente apaixona qualquer pessoa.
Ultimamente temos assistido a várias manifestações que merecem destaque. O avião que aterrou num rio nos Estados Unidos da América provocou um efeito emocional muito interessante, porém, umas semanas antes, um cão era noticia por ter salvo um ser da mesma espécie em plena auto-estrada movimentada. O filósofo francês Merleau – Ponty, cuja simpatia intelectual não me agrada muito, referia caso fosse vivo, que nos “espantamos” com casos como estes porque -existimos para a consciência, ou seja, estamos no mundo quando estamos em consciência, isso faz com que certos fenómenos nos deixem sensibilizados. Só nos comovemos quando nos entranhamos verdadeiramente naquilo que os nossos sentidos captam.
Pode parecer complicado, mas não o é de todo. Quando se deu o acidente, a RTPN abriu o noticiário com; “MILAGRE NOS EUA”, aliás, penso que foi a única estação a proferir a palavra milagre, isto porque todas as outras insistiam em anunciar uma tripulação experiente, uma sorte à americana, enfim… não estou a defender que tenha ocorrido um milagre, mas inquieta-me pensar nas viabilidades argumentativas. Se um padre analisa-se a questão diria que teria acontecido um milagre, se fosse um matemático então era a probabilidade que ganhava, para aqueles que acreditam no Homem então a experiência e profissionalismo da tripulação foi crucial para a sobrevivência das pessoas, imaginem agora o que dirão os fabricantes do avião.
O que seria preciso para tornar o fenómeno desta natureza (acidente) numa explicação uniforme? Bem, não existiram mortes, o avião aterrou num lugar “seguro”, o capitão terá um prémio de carreira, e todos nós estamos conscientes do mundo em que vivemos. Merleau – Ponty tinha razão, “entre a ilusão e a percepção, a diferença é intrínseca e a verdade da percepção só se pode ler nela mesma”. Sobreviveram todos, numa situação onde a probabilidade matemática e a estatística dizem que morriam, sobreviveram onde a maioria dos comandantes vacilava… eis a nossa consciência contemporânea. Já não há heróis.

1 comentário:

rc disse...

Mais do que saber se é milagre ou não, trata-se de um daqueles momentos em que todos nós pensamos no sentido da vida.

O que vale mesmo a pena? O que é importante?

Essas questões essenciais, é que independentemente do credo, atingem todos por igual, mesmo os mais cépticos.