sábado, abril 16

Geração das Ideias

Tive o prazer de conhecer os intervenientes daquela manifestação que ocorreu durante um jantar comício do PS em Viseu. Enquanto falávamos do estado da nação, e claro está, das dificuldades que muitos dos jovens em Portugal (mais dificilmente, os jovens do interior) atravessavam, ocorreu-me a ideia que esta parte da sociedade não é tanto uma geração à rasca, mas sim uma geração cheia de ideias interessantes e transformadoras, mas por estar tão condicionada a dogmas políticos e institucionais não consegue libertar-se e por conseguinte transforma-se na tão falada – geração à rasca -.
Esta geração cheia de ideias é o nosso futuro enquanto nação que vai saindo de uma menoridade instalada desde à muito. A tal momento, perguntei a um deles o que fazia se recebe-se uma proposta de trabalho precária? A resposta foi simples: - aceitava e continuava a luta pela precariedade.
 É esse o espírito. A geração das ideias veio para ficar e eu estou com eles. 

domingo, abril 10

ALEG(o)RIA da CAVERNA

ALEG(o)RIA da CAVERNA vai voltar à Livraria Cabeçudos nos próximos dias 23 de Abril, 21 de Maio e 25 de Junho. 

as oficinas estão abertas para pais e filhos dos 4 aos 10 anos (quem diz pai, diz mãe ou avós ou tia!) 
 
Onde fica? Livraria Cabeçudos – R. Comandante Cousteau, Lote 4.04.01 Loja A (na Expo, perto da Torre Vasco da Gama)
 
 
 

Os porquês da palavra porquê 
formação para pais, educadores, professores, animadores e interessados nas metodologias
 
7 de Maio, em Lisboa | Workshop de 6h sobre Filosofia para Crianças
 
Programa:  
Módulo I – 3,5h
(Possíveis) contributos da Filosofia para o desenvolvimento do pensamento das crianças:
- O Programa “Filosofia para Crianças” de Matthew Lipman 
- Óscar Brenifier: da narrativa ao problema em si 
- Outros autores de referência: Catherine C. McCall.
 
Módulo II – 1h
Novas práticas filosóficas em Portugal
- cafés filosóficos
- filosofia nas prisões
- filosofia e desporto
 
Módulo III – 1,5h
Aplicação dos conhecimentos | prática do questionamento
 
 
informações: Nova Etapa | info@nova-etapa-pt 
 
 
agradeço a divulgação :) 
 
Joana
 
follow me on Twitter: @pensarcriarser

quarta-feira, abril 6

Bibliografia relevante para o estudo aprofundado da educação [humanismo]

Y.J Harder, “La pulsion à philosopher” in J.C. Goddard (Org.) La pulsion, Paris, Vrin, 2006.
Peter Sloterdijk, Regras para o parque humano : uma resposta à "carta sobre o humanismo" : o discurso de Elmau ; trad. Manuel Resende, Coimbra, Angelus Novus, 2007.
Immanuel Kant, Sobre a pedagogia, trad. João Tiago Proença,Lisboa : Alexandria, 2003.
Martin Heidegger, Carta sobre o humanismo, trad. rev. Pinharanda Gomes, Lisboa : Guimarães Editores, imp. 2007.
Platão , A República, introd, trad. e notas de Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 2008.
Hannah Arendt, Entre o passado e o futuro : oito exercícios sobre o pensamento político, trad. José Miguel Silva, Lisboa, Relógio d'Água, 2006. Cap. 5 : A crise na educação.
Sigmund Freud, O mal-estar na civilização e outros trabalhos; trad. do alemão e do inglês sob a dir.-geral de Jayme Salomão ; trad. de José Octávio de Aguiar Abreu ; rev. técnica de Walderedo Ismael de Oliveira ; coment. e notas de James Strachey, Rio de Janeiro, Imago Editora, 1969.
Ernst Cassirer, Ensaio sobre o homem, trad. de Carlos Branco, Lisboa, Guimarães, 1995.

Filosofia da Educação, aulas proferidas por Olivier Féron

Daily Show: Diane Ravitch - The Death and Life of the great american school System



”Regras para um Parque Humano” de Peter Sloterdijk (2/2)


Terceira Parte: O pequeno mundo dos grandes resignados.
Se em Thomas Hobbes, o “homem é o lobo do homem”i, segundo a visão de Nietzsche o homem é o animal doméstico do homemii, ora, isto levanta questões éticas actuais que põem em risco a própria natureza do homem. Todo o Humano confrontado entre a escolha de – Liberdade ou – Segurança, prefere e opta pela segurança, abdicando de toda a liberdade e de todo o pensamento dito humanista. Para uma grande maioria, nem se quer de um dilema se trata esta questão, e aqui Nietzsche profetiza uma sociedade nestas condições, onde o homem selvagem mas genuíno é substituído por um outro ser geneticamente domesticado. Como o humanismo clássico falhou, onde “a relação necessária entre o ler, o estar sentado, e o amansamento” faziam a educação / domesticação do homem selvagem, em Nietzsche o homem caminha para o tempo dos Espartanos, onde a selecção à nascença era uma condição para a prolongação da espécie / tribo. Contudo, o processo de domesticação antropotécnico que Nietzsche revela não é muito diferente do humanismo clássico que já referimos anteriormente, aqui a diferença continua a ser a mesma, visto que irá existir o seleccionado e o que selecciona. O homem, tal como Sartre afirmava na obra: O existencialismoiii é um Humanismo, estará condenado a ser sempre livre. Ora, o homem existe em si mesmo, é o um ser primordial, podemos dizer que é uma definição. O que acontece neste conceito de definição, é o da impossibilidade, visto que existe a tendência do – outro nos definir, de nos seleccionar.
A tese de Nietzsche, apresenta um homem indeterminado nele mesmo, isto porque, o homem é algo que nasce da antropotécnica, logo o que determina o homem enquanto ser - aí? Esta é a grande falha que Sloterdijk apresenta em Nietzsche.
Quarta Parte: Platão – O Mestre do inconformismo?
Sendo a Sociedade um aglomerado de pessoas com funções diferenciadas e estatutos organizacionais, é necessário manter uma ordem para que os homens consigam conduzir a sua sociedade ou comunidade ao melhor caminho, isto é, para melhorar a organização e criar ordem e equilíbrio, porque é de equilíbrio que se trata são necessárias regras.
Esta ideia de aglomerado faz com que uma organização desta natureza seja semelhante a um – Jardim Zoológico [Parque Humano]. “O que se apresenta como uma reflexão sobre política é na realidade uma reflexão fundamental sobre as regras de funcionamento de um Parque Humano.”
É o homem que cuida do próprio homem, é ele que ensina e que mantém viva a civilização, esta é a máxima condição de sobrevivência. Porém, esta ideia platónica não é muito diferente das que já mencionei anteriormente. Existe a direcção [pastor] e a população [ovelhas], resta saber que tipo de diferença existe, se um diferença de grau, ou uma diferença mais especifica.
Na diferença de grau, estaríamos unicamente sobre uma condição pragmática e casual, ao contrario da diferencia especifica onde a direcção tinha uma condição intelectual, sofista. Que erro é que este exercício filosófico possui? O mesmo de sempre. Só quem tiver educação – num sentido estritamente humanista -, é que consegue chegar aos lugares de direcção. Todavia, quem decide quais as crianças que devem ser educadas das que não devem ser educadas? Se tivermos em conta que este tipo de organização não irá permitir as mais pobres de um direito adquirido, que é a educação. Os métodos de selecção são suspeitos, mas é este tipo de sistema que faz o que história nos tem mostrado, - injustiças, guerras e uma verdadeira descrença pelo homem.
Conclusão:
No filme Inside Job de 2010 é lançada uma questão no final do filme: - Os Estados Unidos da América estão na vanguarda das evoluções tecnológicas, a tecnologia é a nova força impulsionadora do mercado mundial, no entanto, para estudar ou trabalhar nas grandes indústrias tecnológicas é preciso formação, e para ter formação é necessário dinheiro, e assim, num país desastrado economicamente, onde só alguns têm acesso ao conhecimento, faz com que voltemos ao mesmo problema. Existirá sempre um fosso entre os que têm conhecimento e capital económico e os que nada têm. Voltámos a ficar resignados. Vamos perder a esperança na nossa natureza e resignarmo-nos?
Se em Hegel, o homem procura o indeterminado – saindo do estado de natureza, em Kant, o homem é um produto (devir) que se inscreve no tempo. A Educação visa o futuro conservando as melhores coisas que vêm do passado, Kant pensa isto a nível supra – individual, isto é, o processo educativo é individual mas não se limita ao indivíduo isolado, não há uma educação isolada – “é um processo a assegurar por outros homens.”
Este processo de humanização é temporal a nível geracional, é o homem que faz o próprio homem. É na conservação desta linha temporal e supra – individual que o homem se conserva, aliás, depende sempre dos cânones humanos para que a humanidade se conserve, é por isso que esta inovação acompanhada de uma razão reguladora que o homem aumenta a sua representação numa natureza assente em três pontos que de certa forma mostram a natureza da nossa bestialidade: possuir, prazer e poder. A questão da educação é uma questão política, porque é esta que ordena o projecto. Esta última premissa ofusca a intenção do devir Kantiano, porque o Homem “é o seu próprio projecto”, e a educação potencializa a liberdade, a perversidade e depravação de existirem grupos que queiram conduzir este homem a um caminho diferente de uma liberdade, provocam um equívoco à existência e sentido da clarificação dos valores humanos.
Em suma: Se Heidegger pretende esquecer o humanismo e voltar toda a reflexão para o homem. Nietzsche perde a paciência no próprio homem e propõe a criação de um homem “emendado”, aliás, Nietzsche deixa as emendas e parte para um supra – humano, um homem limpo da sua natureza. Platão é-nos apresentado como um homem sem rodeios mas confiante num sistema (parque humano) onde uma cidade pode funcionar. Platão é funcional, mas tal como Nietzsche, falha na tentativa de uma criação de oportunidade e de reflexão honesta virada na satisfação de uma sustentabilidade amparada na história da intersubjectividade. Sloterdijk é um crente no humanismo. Regras para um parque humano é um contributo puro e honesto, é uma reflexão, é um exercício filosófico. Quem sabe, Sloterdijk confia no futuro e na inscrição do homem na história, e ele, tal como todos nós, queremos fazer parte dela.


i Leviatã ou Matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil, Thomas Hobbes, tradução - João Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva, Lisboa, Imprensa Nacional Casa da Moeda, 1995.

ii Also sprach Zarathustra, Kritische Studienausgabe, vol. 4, 1983-1985, pp. 221-214; Assim Falava Zaratustra, Relógio d´Água, Lisboa, 1998, pp. 193-196

iii Doutrina que proclama que toda a verdade e acção, implica um meio e uma subjectividade humana