segunda-feira, março 19


Neto de Caçador

Não o conheci. O meu Pai é órfão, será que posso idealizar o meu avô, reinventa-lo seria perfeito. Assim sendo, serei neto de caçador.
Superar a duvida é do mais intrigante que a nossa mente tem preparado para nós. Tive em tempos um avô que era caçador, nunca foi um grande caçador, ele preferia ouvir os animais, não quer dizer que não se tenha alimentado deles, claro que sim, mas só comia os que lhe davam mais luta. O meu avô nunca usou uma arma, era tudo caçado através do ataque surpresa. Esperava-os, dominava-os e exprimia-lhe a condição de vida. Havia uns que lhe davam mais luta, como é o caso do javali e de algumas lebres que teimavam sempre em esconder-se nos mais recônditos espaços do seu habitat. Quando chegava a casa com o troféu de um dia vingativo, desejava sempre poder ignorar que ele mesmo estaria muitas das vezes do lado desses animaizinhos intrigantes que são caçados. É tudo uma questão de oportunidade. o que mais o intrigava é que o homem é negativo porque desde sempre foi educado para caçar, para lutar, mas é nesta actualidade que quando, e cada vez mais, os animais começam a ser uma espécie em protecção, então o homem tem que se virar para o próprio homem. O homem não foi criado para caçar, - dizia ele sempre com um ar aborrecido e melancólico -, é verdade amigo avô, o homem no sentido mais profundo da experiência não está propriamente a caçar, mas sim a proteger-se.
Enfrentar os problemas sempre foi uma arte, existem pessoas que nem sequer os enfrentam, abordam-nos, e isso é a eterna questão da problemática. O fatalismo da contradição que opõe o –enfrentar e o –abordar atinge de certa forma o nosso estado de lucidez que pode mesmo levar à loucura.
Quem caça não é propriamente louco, mas quem é caçado é louco. Os loucos são as presas do anti – cinismo.
Se vivemos, se já cá estamos, então, que seja para caçar. Em tempos fui neto de caçador, e o meu avô nunca precisou de usar uma arma, porque as suas presas sempre -O enfrentaram.

sábado, fevereiro 17

Opus XXV

- Tirar ideias? Ainda por cima, de um jornaleco de merda?
O que há mais por aí, são ideias, e ideais também! O problema é que não se consegue refutar uma argumentação baseada nos ideais. Ainda por cima é quase impossível a sustentabilidade de qualquer argumento, seja ele vindo da ideia ou do ideal. Apesar de não existir diferença, eu sinto-a. É claro que a criatividade é a pura origem do falhado, ou então do glorioso. Tanto tempo e nada. Não se trata propriamente de um medo, ou do medo, mas é mais a hesitação do presente. Quem disse que a hesitação não mata? Mata pois, e bem que mata. Precisava de mais memória. Dava-me jeito. O que faz de um ser inteligente e não – inteligente, é a memoria. Não é tanto o conhecimento ou a sensatez lúcida que fazemos da vida, nada disso, é a memoria.
Memoria.

quinta-feira, fevereiro 15

segunda-feira, fevereiro 12

Sem medo

"Quando já não tivermos possibilidades de sucesso, resta-nos testemunhar. Não se perde a vida daqueles que souberam dar largo testemunho. Conhecemos a fragilidade das nossas forças e do sucesso, mas conhecemos também a grandeza do nosso testemunho. Eis porque conduzimos sem hesitação a nossa tarefa na certeza da nossa juventude."
O Personalismo, Emmanuel Mounier

sexta-feira, fevereiro 2

As instituições estão em completa crise estrutural. Quem afirma tal coisa, - será especulação -, são os senhores, Jonas Ridderstråle e Kjell A Nordström, obviamente que me refugio nesses nomes para poder ter também eu alguma credibilidade, sendo eu um comum mortal, é sempre difícil que os meus pequenos manifestos sejam ouvidos, talvez por isso que use e abuse da minha arrogância, o Mourinho era arrogante, também o posso ser, Jesus Cristo era arrogante, mas o que faz dos arrogantes pessoas arrogantes é o simples facto de a única arma que possuem (a linguagem, ou conhecimento? Qual a maior arma da actualidade?) ser o meio crucial para desmembrarem a tradição ou falsa tradição que perpetua as civilizações.
As instituições estão em crise… hoje é possível encomendar uma tese de doutoramento via e-mail. Então que fazem os fabricantes de teses? Para que usam eles o conhecimento? Para fazerem dinheiro, assim é fácil ser professor, ou então acabar um curso Universitário. Este novo sistema abrange todos os sectores laborais do mundo, assim sabemos que as instituições que nos regem a lei, são meramente um plágio pouco convencional e muito bem camuflado. as pessoas atentas, os da classe baixa, lutam, mas nunca são ouvidos, é indiferente. O conhecimento está de rastos, é a velha escola da era da industrialização, e agora com a pós – industrialização? As instituições não estão preparadas e as que estão, juntaram-se ao individualismo (Jonas Ridderstråle e Kjell A Nordström) no caso de Portugal, é fácil adivinhar, dado que vivemos em agonia profunda desde o 25 de Abril de 74. A falta de estudantes, a falta de investimento, a falta de orientação, provoca a que a mobilidade europeia seja mais fácil; ir trabalhar para países como a Suécia, Finlândia ou até mesmo a Noruega (com 200 euros numa companhia de lowcost, tudo é possível), onde o nível de vida é surpreendente e onde o acolhimento está de tal forma bem organizado, faz destes neo – nómadas, o rumo de uma vida, o que interessa é o dinheiro, a vocação também, mas esta aqui é adiada por uma aventura prospera, afinal de contas, quando se tem talento tem-se em qualquer parte do mundo. As instituições portuguesas têm que entender que o sistema está gasto e que a revolução é uma mera ilusão operaria, porque a cada momento que passa, temos jovens empreendedores a fugirem para Inglaterra, e afins… Agora estes individualistas estão prestes a alterar toda a rota universal, viva o individualismo.

sexta-feira, janeiro 26

Revisitar o acaso generoso

Todos sabemos que existem vários tipos de acaso, mas o que mais me agrada é sem qualquer verosimilhança o acaso generoso.
Hoje pastei, vegetei e ruminei a minha bela rotina. Montei uma velha e ferrugenta prateleira que estava escondida desde a minha nobre saída do seminário. Decidi, dar uma valente volta pela enfermidade da minha humilde casa, tudo isto, porque andava em busca de alguns pequenos fragmentários que eloquentemente alvoravam por corredores fora, quem sabe, também eles nómadas. Percorri léguas afim de preencher a vasta prateleira ferrugenta, encontrei ninhos de víboras, cartas assassinas de um passado vigoroso, livros do antigo regime, e que grande regime… espirrei de alergia, pó e pó, já ao findar do dia, e daquela tarefa da vontade espontânea que ocorrera ao principio da tarde, deporta-me o sentido da curiosidade por uma caixinha de cds em papel, olhei para ela, peguei nela, lia e ri-me: “Guia de Indústrias e Profissionais de Portugal”, voltei a rir-me, e abria na esperança de ter um motivo sólido e pouco sensacionalista de empurrar aquilo para o lixo. Atrapalhadamente, acabara de encontrar o meu perdido cd dos Tindersticks, o álbum era o Donkeys 92 – 97, que lindo, que belo, que sublime. Voltei-me para o acaso, e respondi-lhe:”Obrigado”.

quinta-feira, janeiro 25

Caro Mestre Nietzsche (2-10)

Muito obrigado pelas suas atenciosas palavras de conforto, é nesta distância verbal e corporal que só as palavras fazem sentido, só as palavras constroem a acção do imaginário, e neste preciso caso, da saudade e do conforto, que tanto preciso. Mas deixo o lamurio do meu presente – passado para quando nos reunirmos em alegria e eternidade, será belo, belíssimo, assim o espero.
Amigo, o que lhe proponho no seguimento deste pequeno desabafo tem a ver com a submissão. Infelizmente a nossa civilização está condenada a um preconceito chamado: Conhecimento. Lembro-me de certa altura ter afirmado que: “ vivemos, seguramente, graças ao carácter superficial do nosso intelecto, numa ilusão perpétua: temos então para viver, necessidade da arte a cada instante.” Sim, e é essa mesma arte que ignoramos todos os dias. Por exemplo na minha terra Natal, Santa Comba Dão, as pessoas podem ser explicadas pela seguinte expressão: “Como burros a olhar para um palácio”, e isto porquê, porque lhes falta a sensibilidade da criação. Com isto afirmo piamente que qualquer politico e educador em Portugal é uma circunstancia – superficial, dado que ensina o – outro de uma maneira mecanicista e tecnicista, sem paladar cor ou alento. Vivemos no “mercado” de um conhecimento desesperado. As pessoas tentam devorar sem sentimento uma pérola inigualável, talvez por isso, é que, e peço desculpas pelo atrevimento, é que os seus escritos foram tão mal interpretados, o que deu origem a muitos desastres humanos.
Se hoje viajo até ao México para ver a cultura, ou o que resta dela, é porque tenho sensibilidade e um apetite saudável por tal, mas será que os antigos habitantes dessa mesma cultura teriam a “sabedoria” de apreciar uma aparência duplamente necessária? Duplamente, dado ao conteúdo da contemplação (e lembro-me por exemplos das pirâmides) e ao mesmo tempo do funcionalismo? Se calhar o melhor exemplo é mesmo o da civilização grega e romana, cujas analogias o Senhor tão bem as rutilava. Só assim se percebe o porquê da sua destruição. Lamento, mas a minha civilização está prestes a cometer o mesmo erro.
Somos submissos a um governo que não conhece o seu “povo”, que não se conhece a si mesmo, o abismo é a actualidade. Resta a imagem da aparência, da sobrevivência, eis a minha, a nossa metamorfose.

Saudades G.

quarta-feira, janeiro 24

Caro Mestre Nietzsche (1-10)


Não sei como lhe começar esta carta. Na verdade, ando apreensivo em relação ao meu futuro, falo obviamente do meu futuro profissional, isto porque é na academia que tudo se decide, pelo menos é o que dizem os “sábios”. A minha “filosofia”, aquela que me levou à academia de nada coincide com o que aprendo, uma parte de mim anda atrapalhada com a própria vocação, aquela que Deus me deu mas que teima em não ma apresentar, mas pior que isso, é a lamentável proeza das palavras. As malditas e arrogantes sensações que tenho na consciência não conseguem trespassar o papel fino, e a caneta frágil, essa, teima em não delinear aquilo que eu mesmo conheço. Pior do que o abismo, é sabermos que possuímos algo mas que só lá chegamos intuitivamente, é o fracasso, é o morrer na praia. Se me permite, é caso para dizer que o entendo perfeitamente, quando afirmava: “estou só…só...”, indubitavelmente a humanidade está presa ao massacre da economia selvagem, e visto por esse prisma, eu sou o dono de uma parcela da academia, dado que pago para a frequentar, e que os professores são os meus obedientes, pior é que estou a ser enganado.
Lamento esta minha arrogância, mas é misterioso este mundo.
Estou sem qualquer dependência da filosofia, fui abandonado por mentes indesejadas e perigosas que usam e abusam de uma autoridade nobre. Estou com medo, mas resta-me o suspiro da noite, da solidão.

Seu fiel amigo G.

segunda-feira, janeiro 22

domingo, janeiro 21

Profissão do futuro – Mendigos do Futuro

A profissão do futuro chamar-se-á, Abortistas, ou então, técnicos abortistas, aos que recorrem a estes médicos/técnicos, aliás, chamaremos unicamente Técnicos, dado que, e aí teremos que ir ao pai da medicina, Hipócrates, que e muito bem afirmava: “A ninguém darei por comprazer, nem remédio mortal nem um conselho que induza a perda. Do mesmo modo não darei a nenhuma mulher uma substância abortiva.” Por isso é mesmo recomendável que fique, técnico, e aos que recorrem aos técnicos “do futuro”, vamos chamar de aborígenes, não… não, isso já existe, vamos chamar de abortigenas.
Esperemos é que a economia fique favorável, para que no futuro não vejamos nas ruas, meninas ou casais a pedirem esmola, com os tradicionais cartazes de cartão a dizerem: “Ajude-me, é para Abortar”.

sábado, janeiro 20

Opus XXIII

Beatriz era uma moça pacata, terna para com a família, e gostava muito de ajudar o próximo. Mas o único problema da Beatriz é que era uma esquizofrénica não assumida.
Quando era pequena, Beatriz, matava gatos e enforcava coelhos, na esperança de sentir que naquele momento, naquele preciso momento, havia alguém que estava a sofrer mais do que ela. Beatriz era uma moça engraçada e que cativava todos à sua volta, mas Beatriz, tinha ainda outro problema além de ser uma esquizofrénica não assumida, Beatriz sonhava que os seus problemas podiam ser resolvidos através do conhecimento, ou seja, a Beatriz “sabia” que a resolução dos seus problemas estava precisamente nos livros, era aí que havia a cura para a sua maleita. Ela própria não sabia ainda o que tinha, mas sabia o que a atormentava, mas estava certa que encontraria nos manuais estéreis das bibliotecas alguém parecida a ela, e alguém que tenha ultrapassado o mesmo problema. Foi então que decidiu estudar… estudo nos melhores colégios e nas melhores universidades, acabou, inclusive, com a melhor nota de todo o mundo, mas infelizmente, ela sentia que ainda estava longe da resolução da sua significante vida. Foi na altura de escolher a empresa onde iria trabalhar, que Beatriz conheceu uma rapariga sensacional. Beatriz ao falar com ela, a primeira vez, reparou que o seu entusiasmo pelo conhecimento teórico dos livros estava a ser substituído por uma rapariga, ou seja, Beatriz estava apaixonada, sim apaixonada. Mas por uma rapariga? – Perguntam vocês – Sim, por uma bela e magnifica rapariga. O que mais fascinava Beatriz, era o olhar, e a inteligência descontraída e rebelde que a sua apaixonada transmitia, passaram tempos e tempos a rir e a trocar ideias, parecia que ambas estavam felizes.
Num certo dia, a apaixonada da Beatriz, começou a ficar doente, deprimida, e com falta de cor no seu mundo, ao contrario da Beatriz que parecia que o mundo finalmente lhe tinha dado as resposta todas, a sua apaixonada, entendeu que estava a ser emocionalmente substituída. Foi um choque para ela, coitada. Beatriz tentava encontrar solução para o problema da apaixonada, mas via que dia para dia, ela piorara, a apaixonada estava a morrer envenenada. Beatriz corre para casa da família da sua apaixonada e vê no quintal, um cão preso por uma longa e ferrugenta corrente de ferro, o nome do cão intitulava-se Plebeu. Plebeu era um cão que vivera acorrentado desde que nasceu, era um cão muito especial, porque era muito leal a quem lhe dava comida, e não só, Plebeu respeitava até quando lhe batiam e não lhe davam de comer, Plebeu era um cão muito cativante. Ao aproximar-se, Beatriz, faz uma festinha ao Plebeu e solta o cãozinho, isto porque, Beatriz “sabia” que o Plebeu estava farto de estar acorrentado, e “sabia” que o cão iria ficar muito feliz. O certo, é que o cão foi dar uma voltinha, correu, correu, e até ganiu, mas nunca mais apareceu.

sexta-feira, janeiro 19

terça-feira, dezembro 26

Perpetuem-se.

Voando sobre os ninhos de uma ave pequena, o homem sussurra palavras amistosas de silêncio confuso. Quem mais poderá viajar se não souber o caminho? Anteontem todos morriam de sede e de calor, mas o intenso orvalho que das nuvens permanecia fugitivo de harmonia, nada mais se manifestaram sem que o Homem os alcançasse.
Ternas mãos rudes de veios sapientes mexiam no ninho de avestruzes. Como eram grandes, as mãos.
As águias afugentadas pelo ódio do não querer viver consoante a misericórdia da dádiva, viraram-se mortalmente sob o profundo e triste magistral silencio do branco supérfluo da inquietação penetrante da vida.
- Que miséria!
- Que paixão!
Soltai os patos e as andorinhas que tanto voam para mostrarem uma vez mais que existem para que se saiba da ainda liberdade da morte. Mas para se escolher, tem que se saber da vida.
O sol não poisa, avança em linha recta, nós, mortais, é que circulamos numa vida consciente, mas circular.
Perpetuem-se.

terça-feira, dezembro 19

Proposta de Rem Koolhaas para uma nova bandeira da União Europeia (2004)

sexta-feira, dezembro 8

“Être et avoir”

Nicolas Philibert assina uma obra de verdadeiro destaque pedagógico. O filme – documentário “Être et avoir” (Ser e Ter) revela uma substância de cariz puramente virtuoso. Os sentidos prendem-se com as paisagens de Auvergne – França, e com uma paciência quase perfeita de um professor em pré reforma. A questão mais surpreendente deste documentário não é tanto a questão do tempo e dedicação do professor e aluno, mas sim o fascínio por uma “raça” em vias de extinção.
Os prémios arrecadados são a prova de que a sociedade por mais perdida que ande, reconhece o bom trabalho, ou seja, a vocação. Falar de vocação, de entrega e partilha continua a ser tabu na sociedade em geral.
Por exemplo nas universidades, aproveitam-se as melhores médias para meter pessoas que não estão verdadeiramente ligadas à pedagogia, ou seja, se a pessoa é dotada de uma capacidade de raciocínio elevada então que vá para investigação, se um professor reconhece um certo talento no aluno então deverá ser ele o pioneiro em indicar (como Mestre) um caminho vocacionado para essa mesma pessoa. De facto “existe falta de sanguinidade” tanto nas universidades como em qualquer outro patamar laboral do nosso país, mas no mundo também.
Este documentário tem uma carga emocional muito elevada, mas comprova que existem vocações, que existe amor na arte, porque, quando se é bom, é-se mesmo bom, mas para isso, falta descobrir onde é que se é bom. Enquanto não descobrimos, ou temos medo de arriscar onde seremos bons, alguém tem que sofrer. Enquanto houver ordenado, daqui não saio.

domingo, dezembro 3

Opus VIII

Quem consegue concordar com os poetas da vida? Sim senhor; somos todos a vida que não controlamos.
Existem personagens para tudo, todos poderíamos ser tudo. As personagens que encaramos num olhar de amargura e instantes de prazer absurdos e calmos, são o que são, mas nunca o são na perfeição. Porque razão, tentamos olhar o outro sem que o alcancemos. Temos que o delimitar. Temos que entrar no silêncio, e porquê? Para não mentir, para não sermos mais uma personagem. Hoje tentamos matar a vida, mas a vida física constrói-se a cada momento dessa mesma atitude impiedosa que se chama vulgar.
Andamos confusos porque tudo muda, a cada caminho que cruzamos todos os sinónimos alteram-se, mas a essência permanece, e essa essência não compactua com o relógio que corre e a água que toca. Hoje seremos mais um Don Juan que não busca o amor total, mas aquele mortal que busca o prazer da entrega e da partilha. Se em pequenos instantes conseguirmos olhar o universo da revolução com o espírito da verdadeira liberdade, então conseguimos, descobrir a verdadeira liberdade. Chamemos-lhe neo – liberdade, porque só aqueles que conseguirem olhar nos instantes vulgares dos aspectos mais vulgares da vida e conseguirem imaginar o seu espírito nesse mesmo momento vulgar então é porque existe a possibilidade de uma existência vulgar, mas cabe aos neo – libertos, o dom de o não escolher completamente. Sejamos, sejamos… bons nos aspectos que vimos e gostámos, mas sejamos, sejamos libertinos nos aspectos que vimos, ignoramos, mas não reflectimos na possibilidade de esse mesmo momento ser nosso, e o outro ser o que eu poderia ser, e o que eu sou, ser uma saudação da ironia, da nossa neo – liberdade.
Sintam e sintam-se bem, mas não se sentem, porque acabariam no lamento da preguiça mortal da antiga liberdade.

sexta-feira, dezembro 1

Humor. Uma obra sob a forma de fragmentos

Ao entrar na aula disse: “ Quem terá sido a pessoa que ocupou o meu habitual lugar?”, -Maldita seja ela! Apareceu assim do nada, como devaneio de um sentimento já aguçado de insipiência perpetua, maldita.
Abalou as estruturas do pensar, mas também do agir, quem diria? Quanta mais raiva pode surgir do meu coração puro, que afinal de puro nada tem, mas tenta todos os dias ou ao deitar, depende do bagaço que o Sr. Horácio oferece, tudo depende de tudo, de algo, dos sentidos mas também das formas, e que formas, eu que o diga. As formas são o elixir do meu sentir e da minha ilusão. Pois é, tanta perfeição que paralelamente foge de mim. Fui viradinho a ela, e exclamei em voz profunda e maquiavélica: “ Quem és tu?”. Sou a força das águas, a anarquista que cintila onde quer que seja – diz ela como que protegesse um castelo de princesas e dragões - e quem és tu, que me perturbas neste momento? Eu, sou um mago! Que mata com medo, que sobrevive a todas as guerras, sou o ser que Deus criou num tempo onde o humor reinava nos homens…

sábado, novembro 18

Condição humana

A palavra condição deriva do latim conditione: substantivo feminino que pode significar: “classe a que pertence uma pessoa na sociedade; distinção, categoria elevada; carácter, índole, génio; maneira de ser; qualidade que se requer ou se deseja; cláusula, encargo; circunstância, situação.
Visto isto podemos argumentar que quando se diz: Condição Humana, então, estamos a supor que existe uma outra condição, talvez a divina.
Se ser condição é estar limitado, é porque, logicamente, somos limitados, sem novidades por enquanto. O que se pretende então é derrubar o – determinismo, cuja corrente filosófica diz que é uma: “doutrina segundo a qual todos e cada um dos acontecimentos do universo estão submetidos às leis naturais, de tal forma que cada fenómeno está completamente condicionado pelos que o precedem e acompanham, condicionando com o mesmo rigor os que lhe sucedem; doutrina que implica que todas as determinações humanas estão sujeitas à acção providencial, negando o livre arbítrio.” Fica a liberdade, que tantas vezes é o enunciado de gente e gente, mais uma vez ficámos sozinhos. Então recapitulando, somos limitados ao que possuímos, logo existe uma divindade que afirma sermos livres, isto do ponto de vista espiritual e não só, o determinismo evapora, a liberdade evapora-se. Ficamos então com o – Ser Condição.
Ser – condição é: caminhar, unicamente caminhar. Quem caminha de olhos virados para as nuvens, quando as há, é acreditar que existe uma transformação. A morte é o declínio único do determinismo e da liberdade. Os conceitos do livre e determinista só podem ser adequados à morte. Porque falar em morte é falar de algo certo. Agora referindo-me ao aborto. Este caso é de morte, logo as pessoas enunciam tanto a palavra liberdade e a eutanásia é também esse caso, em que se é livre para morrer de “olhos abertos”. A condição humana só é condição na morte. Morrer, porque se está determinado a isso, e liberdade na morte porque somos limitados ao Ser – Condição.

sexta-feira, novembro 17

“A morte existe para dar mais significado à vida.” (Six feet under – HBO).

A morte que vem por acaso, o amor que vem ao acaso. É assim que eu defino a área de serviço CEPSA no IP3 – Santa Comba Dão.
Certa altura – como moro relativamente perto – fui até a essa área de serviço, comprar tabaco, deparei com uma excursão de idosos que vinha de Penafiel em direcção a Lisboa. Saíram todos e entraram no restaurante – onde eu estava – almoçaram umas sandes de atum e beberam um sumo de laranja natural – refeição perfeita para um grupo grande de pessoas que têm um estômago fraco.
Estava já de partida, quando uma elegante senhora acompanhada de seu esposo, desmaia. Instalado o pânico entre os forasteiros, imediatamente a ambulância é chamada – INEM. Levam-na com uma maca para a ambulância. Um dos bombeiros, ou médico, é difícil de precisar, dá um último alento ao marido, que sóbrio, segura um telemóvel, e deixa escorrer uma nobre lágrima de desespero. Muito haveria para explicar, se aquela lágrima era de medo de perder a esposa, ou se era por ela estar a sofrer, e então, essa lágrima seria uma partilha do mesmo estado existencial e condicional compartilhado com a esposa.
A imagem das imagens é quando a ambulância balança freneticamente de um lado para o outro, seria como se lá dentro, num espaço tão reduzido uma guerra de corpos estivesse a ter lugar. Estando o pânico instalado, as lágrimas de raiva, os abraços, o consolo, tomava os hectares da área. Passados dez minutos de reanimação, sem efeito, a elegante senhora morre. Morreu. O que resta são mais dez minutos de gritos desesperantes que são lançados em direcção a um Deus que queria um adeus eterno. Fica o lugar sob o rio Dão, que imagem ainda mais bela. Houve uma morte, houve um rio, houve uma lágrima insustentável. As pessoas entraram todas no autocarro. O esposo foi junto ao corpo de sua esposa, contemplando uma viagem mais longa que a prevista.
Fica sempre o humor (negro) ou sádico de uma pessoa que comprou um bilhete de uma viagem, e teve direito a duas viagens, há pessoas com sorte.