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sábado, janeiro 12
October Flight - Black Keys [cover Lonely Boy]
Estes senhores são os maiores.
Da ilha Terceira para o resto do mundo.
Bom fim de semana
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Guilherme Castanheira
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Angra do Heroísmo,
divulgação; musica,
October Flight
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terça-feira, maio 8
6ª Extensão INDIELISBOA - Festival Internacional de Cinema Independente
A Associação Cultural Burra de Milho apresenta - 6ª Extensão INDIELISBOA - Festival Internacional de Cinema Independente
de 12 a 19 de Maio no Centro Cultural e de Congressos de Angra do Heroísmo
entrada: 2 euros // desconto 50% para sócios da bDM
segunda-feira, maio 7
Cinema e Educação
O documentário “pro dia nascer feliz” (João Jardim, 2006) é
aquele filme que mostra o lado mais importante, o do aluno. Se em “entre os
muros” (Laurent Cantet, 2008) analisamos de forma quase egocêntrica o frete em
ensinar alunos existencialmente perdidos. No documentário “pro dia nascer feliz”
somos convidados, ou melhor, somos empurrados para a dura realidade de pessoas que
querem algo da vida, que procuram um objectivo, mas a escola teima em
negar-lhes.
O professor é tão culpado como o governante. O professor
sente-se confortável, até ao dia em que lhe mexem nos abonos. O professor, essa
casta, que sofre com os desacatos do sintoma existencial dos alunos, não
percebeu ainda que duro é ser aluno da modernidade. Um aluno sem objectivos,
sem horizonte, sem crença nele mesmo. Pior, é o facto, da própria escola fugir
a essa responsabilidade.
A educação é a oportunidade de quebrar fronteiras políticas
numa estrutura em que o contexto de reflexão do –eu, é cheio de ausências e significação. Que
significa tudo isto? Significa aquilo que se vê no actual sistema educativo;
desinteresse dos alunos na educação, descrença social na envolvência do plano
educativo, enfim…
O medo. Aquele sintoma que não tem explicação lógica é incontornável
aos nossos sentimentos. Ele existe por força maior. Ele é “a pressa de saber”
quem somos, quem vamos ser num futuro próximo. A escola é esse espaço de
definição singular e único no nosso desenvolvimento cognitivo ou emocional,
sim, cognitivo ou emocional. Nenhum deles está dissociado, não deveria estar.
Eis um filme para mostrar aos professores, educadores, pais
e governantes. Neste caso concreto, deixem os alunos de fora, vós sabeis do que falo.
*o filme teve estreia nacional no dia 28 de Maio de 2009 em Angra do Heroísmo [ciclo de cinema - olhar a diversidade na escola]
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Guilherme Castanheira
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Angra do Heroísmo,
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segunda-feira, dezembro 12
Conferência "Os Estados e a Cidadania numa Europa em desagregação"
Numa iniciativa dos Cursos de Estudos Europeus e Política Internacional, de Filosofia e Cultura Portuguesa e do Europe Direct Açores, o Director do Departamento de Ciências Agrárias da Universidade dos Açores e responsável pelo Europe Direct dos Açores tem a honra de convidar V. Ex. para a Palestra “Os Estados e a Cidadania numa Europa em Desagregação", proferida pelo Prof. Doutor António Teixeira Fernandes, professor catedrático jubilado da Universidade do Porto, que se realizará no dia 13 de Dezembro de 2011, pelas 18h00, no Auditório do Complexo Pedagógico do campus de Angra do Heroísmo da Universidade dos Açores.
+inf: martabarcelos@hotmail.com
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sábado, outubro 1
Ficha de inscrição [workshop bioética ambiental e animal] Angra do Heroísmo Desafios actuais, perspectivas futuras
No próximo mês de Outubro terão lugar, em Angra do Heroísmo e Ponta Delgada, dois workshops dedicados à BioÉtica Ambiental e à BioÉtica Animal, organizados pela Universidade dos Açores.
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Guilherme Castanheira
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segunda-feira, agosto 1
BioÉtica Ambiental e Animal: desafios actuais, perspectivas futuras
Nos próximos dias 14 e 22 de Outubro (em Ponta Delgada), 15 e 21 de Outubro (em Angra do Heroísmo), irão decorrer dois workshops dedicados ao tema “BioÉtica Ambiental e Animal: desafios actuais, perspectivas futuras”, com o seguinte Programa:
WORKSHOP 1: BioÉtica Ambiental (14 de Outubro, em Ponta Delgada / 15 de Outubro, em Angra do Heroísmo)
Conferência Inaugural Exigências ambientais de uma cidadania activa
Professor Eugene C. Hargrove, Center for Environmental Philosophy, University of North Texas
(com tradução simultânea)
10h30-13h00: Ambiente: Uma Questão de Ética?
Mestre Maria José Varandas
Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa
00-17h30: Da Ética Ambiental às políticas de conservação ambiental
Prof. Doutor Humberto Rosa
Faculdade de Ciências, Universidade de Lisboa
WORKSHOP 2: BioÉtica Animal (21 de Outubro em Angra do Heroísmo / 22 de Outubro em Ponta Delgada)
0-10h00: Conferência Inaugural Bem-estar animal: uma exigência de cidadania
Professor Nathan Kowalsky, St. Joseph’s College, University of Alberta, Canada
(com tradução simultânea)
10h30-13h00: A Ética e os Animais
Dinamizadora: Professora Doutora M. Patrão Neves
Universidade dos Açores
14h00-17h30: O uso de animais: experimentação e produção intensiva
Dinamizadores: Doutora Anna Olsson e Mestre Manuel Sant’Ana
Instituto de Biologia Molecular e Celular, Universidade do Porto
Para mais informações e esclarecimentos, poderão contactar a organização do evento através de:
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Guilherme Castanheira
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Angra do Heroísmo,
filosofia,
opinião; bioética
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sábado, julho 10
Talentos emergentes em Angra do Heroísmo
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As diferenças culturais ajudam muito na interacção entre a criatividade e a produção artística. Uma não pode fugir da outra. Quem produz arte, renuncia - na grande maioria dos casos - ao espírito social, ou seja, ao que é convencional. Não existe defeito nenhum em ver pessoas com o cabelo pintado de arco íris, nem tampouco uma pessoa cheia de tatuagens. Não deve existir preconceitos, na medida em que são essas diferenças pouco convencionais que nos impelem para o patamar do fantástico, do diferente, do criativo não convencional. Cultura e Arte são tão diferentes como a água do vinho. A Arte promove a expressão cultural. é a linguagem do individuo como - Ser autónomo. Angra do Heroísmo é uma cidade rica culturalmente, mas muito pobre artisticamente, talvez porque, nunca se conseguiu desmarcar do convencional social. Os Promotores culturais não conseguem revelar a individualização lúcida da cultura e da arte. Cultura existe em todo o lado, mas é na arte que reside um projecto dinâmico que constrói a sociedade, podemos mesmo dizer que se trata do elixir das virtudes humanas. O ensino artístico é tão antagónico que consegue corromper tudo e todos. Passo já a explicar: Existem politicas de incentivo sociais, em que se promove os naturais Terceirenses a ficarem na sua terra e a construírem um projecto. No entanto, temos uma escola artística (Tomás de Borba) que ensina jovens a perceberem a sua vocação artística e quando o conseguem eles partem para outro lugar, lugar esse onde aperfeiçoam a sua arte, mas incapacitados por falta de compreensão social e profissional, nunca mais voltam. Em suma: Andamos este tempo todo a promover os nossos jovens a sair da Ilha. Quando descobrimos que um dos nossos se "safou" lá fora, ficamos todos contentes com essa ideia que até gostamos de publicar nos meios sociais regionais o seu feito. Atenção, refiro-me neste caso particular a pessoas transversais à sociedade (Desporto, politica, arte etc...).
Não há problema nas pessoas saírem para aperfeiçoar a sua vocação, mas é preciso estarmos atentos nas vocações que por aí andam. Eu cá conheço algumas, hoje vou divulgar oficialmente uma. Aqui está ela: Chama-se Catarina Melo, quer seguir dança e gosta de fotografia. Interessante esta ideia de polivalência artística. Um artista quando o é na realidade, é um individuo completo, e aqui em Angra, temos um(a). Podem contemplar alguns trabalhos dela AQUI. Saber se no futuro ela fica cá ou só volta nas férias, bem... isso depende de todos nós.
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quinta-feira, abril 22
Angra do Heroísmo - Cinema e muita Filosofia
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A festa do pensamento humano vai estar patente em dois momentos únicos. O CCCAH organiza um ciclo e um debate em que o Cinema irá servir de mote à reflexão humanizada e socialmente mediática. O Ciclo de cinema "Nos Caminhos do Homem, o elemento espiritual no cinema" irá tentar levar o espectador a uma identificação do próprio - Ser. Já em Abril, a Culturangra EEM (CCCAH) vai espicaçar os Angrenses numa matéria que faz parte de um passado relevante e mediatizado pelas características peculiares dos Açores.
Basta clicar nas imagens para visualizar melhor os cartazes.
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filosofia,
Sentido - Cultura
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quarta-feira, fevereiro 17
segunda-feira, janeiro 25
segunda-feira, setembro 21
segunda-feira, março 23
Piaf de Filipe La Féria - Angra do Heroísmo
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teatro angrense
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domingo, março 15
domingo, fevereiro 22
Filosofia e Toiros - Francis Wolff - Entrevistado por Rui Messias
Para Francisc Wolff, a corrida de toiros não é tanto uma reminiscência dos valores guerreiros do homem, mas sim “a ritualização, a sublimação de uma violência natural”. “È um espectáculo da modernidade [os seus contornos actuais datam do início do século XX]”, garante. Um espectáculo que, para ele, é, “ao mesmo tempo, injusto e leal”.
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Uma provocação: quem não gosta da Festa Brava, acusa-a de ser um espectáculo bárbaro e violento. Como um filósofo, um homem do pensamento, gosta dessa arte?
Gosto e não acho que ela seja bárbara. A barbaridade aconteceria se o animal e o homem lutassem no mesmo plano de igualdade. Ou se o combate não fosse leal. A característica no combate entre o homem e o animal na tauromaquia é que ele é, ao mesmo tempo, injusto e leal. Ou seja, se fosse justo – igual entre os dois – seria absolutamente bárbaro na relação com o homem. Se não fosse leal – se fosse um espectáculo de tortura em que o animal não teria a oportunidade de combater, de lutar – aí seria bárbaro na relação com o animal. A corrida de toiros é o espectáculo da luta desigual e leal de um homem contra um animal. Um animal que é bravo. Ou seja, de um animal que, por natureza, tem esse instinto de viver livre e rebelde no campo e de querer morrer combatendo para defender o seu território e a sua vida. Por isso, a corrida de toiros é o espectáculo da vida e da morte, que nada tem de bárbaro.
Pode dizer-se que o fascínio que a corrida de toiros ainda hoje provoca tem origem na ideia que transmite do antigo guerreiro que procura morrer combatendo… Homens que hoje não lutam, encontram ali o passado guerreiro?
Obviamente, a corrida de toiros denota esses valores e virtudes antigos de Cavalaria, de combate em busca da glória do campo da batalha. Mas, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a corrida de toiros, na forma que a conhecemos, nasceu no século XVIII. E a forma em uso surgiu no início do século XX. Ou seja, a corrida de toiros actual é um espectáculo ligado à modernidade. Porque representa um certo gosto por um certo tipo de expressão artística que tem a ver com a modernidade e não com a apologia da violência ou da brutalidade. É exactamente o contrário: a ritualização, a sublimação de uma violência natural. Tomemos o exemplo da morte: hoje em dia, a modernidade tem escondido cada vez mais a morte. Tem-na desritualizado. Fê-lo por vários motivos, nomeadamente a queda do sentimento religioso, da perda das relações de familiaridade com o ritual quotidiano. Justamente o que mostra a corrida de toiros é a importância da ritualização para entendermos o sentimento profundo da morte. Morte necessária do animal – porque qualquer ser vivo tem de morrer – ou da morte possível do homem. De tal forma que a corrida de toiros nada tem a ver com a apologia da guerra, que podemos encontrar na antiguidade grega ou romana – onde a violência bruta e crua era o centro da atenção. O que os aficionados gostam é do espectáculo da sublimação da violência, através da beleza do combate.
Será por isso, então, que muitos académicos e eruditos têm vindo a escrever e pensar a tauromaquia?
Sim. A corrida de toiros não teria o menor sentido se não estivesse integrada numa cultura geral. E tem-no em duas vertentes: de um lado, a cultura taurina dos povos mediterrânicos, que tem uma relação especial com o toiro de lide; do outro, a cultura no sentido mais amplo da palavra, através da pintura, da escultura, da poesia ou da literatura. Para sabermos se uma coisa é cultural ou não, basta saber se ela gera obras de outro tipo. É o caso da corrida de toiros, que sempre chamou a atenção dos criadores, dos artistas e dos pensadores. E fê-lo porque é uma arte que, ao mesmo tempo, é muito idiossincrática de certos povos e assume um valor universal, ao expressar o sentido da morte, de transformar o medo da morte em beleza, de estilizar a sua existência. A luta do toiro pela sobrevivência é, ao mesmo tempo, necessária – porque é a definição da vida – e um fracasso – porque cada vida tem por fim a morte. Por muitas razões, a corrida de toiros sempre chamou a atenção dos artistas.
Paco Aguado, jornalista da revista “6Toros6”, na sua intervenção no Fórum Mundial da Cultura Taurina, dizia que “gerações e gerações de espanhóis, portugueses, franceses e americanos, foram às praças de toiros, aprendendo ali o sentido real da vida”. Concorda com esta ideia?
Em qualquer tipo de grande expressão humana qualquer pessoa pode encontrar todos os valores e todos os sentidos da vida. Não vou dizer que a corrida de toiros é mais que as outras formas de expressão nesse sentido. Até porque cada povo tem um modo particular de expressar os seus valores e o sentido da vida. Contudo, entendo que, na relação entre o homem e o toiro, a tauromaquia teve, em certos momentos, essa capacidade. Acontece que, hoje em dia, por muitos motivos – e nem todos maus – as novas gerações têm outros modos de encontrar o sentido da vida. E, dessa forma, não reconhecem na corrida de toiros o veículo de percepção do sentido da vida. Por isso, a tauromaquia é apelidada de arcaica, antiga, etc. Mas há uma grande diferença entre a tauromaquia e as outras formas de expressão (que também têm o seu valor, muitas vezes de enorme excelência): ela sintetiza, de alguma forma, os valores do desporto (porque comporta uma expressão atlética), da arte (porque comporta uma expressão da beleza e do sublime), do rito religioso. Ou seja, a tauromaquia é uma forma artística que não pertence a um género em particular. E onde cada um pode encontrar nela um certo sentido. E que quem, realmente, gosta da corrida de toiros sabe que pode, através dela, gozar de todas as formas de valor que vai encontrar individualizados noutras formas de expressão.
O que o atrai, enquanto filósofo, na tauromaquia?
Escrevi um livro que se chama “Filosofia da Corrida dos Toiros”. E aí sintetizo esta ideia: a corrida de toiros pode dar uma certa experiência concreta de algumas ideias gerais da Ética, da Estética e, de certa forma, da Metafísica. No fundo, a tauromaquia garante a realização de algumas ideias que, como dizia Platão, só existem no plano das ideias. Por exemplo, a ideia da coragem: pode não ter uma realização dela, mas na corrida de toiros vê-se essa ideia. Mas se procurasse algo particular que me tenha ensinado a corrida de toiros, dizia-lhe o seguinte: os gregos tinham uma só palavra para designar o “Belo” e o “Bom”, a palavra “Kalos”, que significa “Admirável” – ou seja, é admirável por ser harmónica e meritória. No mundo moderno, o “Belo” é sempre separado do “Bom”. O “Belo” é o reconhecimento da estética de algo. O “Bom” é o reconhecimento de acções. Mas, na corrida de toiros, a mesma coisa, o mesmo momento, o mesmo gesto, a mesma acção é “Bela” porque é “Boa”, ou seja, porque é meritória, valorosa e, por isso mesmo, é a personificação da Beleza. Quando vê uma “suerte” em que o matador permanece imóvel, mas consegue “estendê-la”, aí reconhece a sua beleza e, ao mesmo tempo, o seu mérito. Outra perspectiva desta ideia: a “Beleza” é o uso do mínimo de meios para conseguir os máximos fins – mínimo de espaço, de tempo, de mobilidade, para conseguir o máximo de efeito sobre a investida. É justamente isso que, ao mesmo tempo, personifica o mérito do toureiro e a beleza da sorte. Isso é algo que não vejo unida em nenhuma outra forma de expressão.
Os latinos, por natureza, são um povo de sentimento, onde o coração e a emoção falam mais alto do que a razão. Como foi possível que tenham sido eles quem sublimou a morte e a violência através da ritualização da corrida de toiros? Encontra alguma justificação para isso?
Não encontro qualquer explicação para essa idiossincrasia particular desses povos. Acho que todos os povos têm uma maneira de expressar as suas emoções. No caso dos latinos, essa expressão aproveitou-se de uma relação especial que, ao longo de séculos, tiveram com o toiro. O toiro que, ao mesmo tempo, é respeitado, objecto de culto, e de projecção da suas emoções e dos seus valores enquanto ideal humano, mas também alvo de receio, de medo. Acho que é essa a razão de ser profunda que explica a presença tão forte da tauromaquia nos povos latinos. É óbvio que tudo terá ver com o modo de ser e estar desses povos. Mas, acho que a corrida de toiros, contribuiu para moderar a alma desses povos. Não será só o resultado da sua vontade de expressão da sua alma, mas também a forma que lhes foi moldando essa alma.
Vários grupos contestam as corridas de toiros, acusando-as de serem bárbaras e atentatórias dos direitos dos animais. Mas, ouvindo as suas respostas, denota-se que a corrida de toiros é muito mais do que o desafio puro e simples da razão do homem ao coração do toiro. Como poderá essa expressão, então, sobreviver a essa contestação, numa sociedade onde a urbanidade se tem vindo a tornar preponderante na escala de valores?
O anti-taurinismo tem razões profundas e, ao mesmo tempo, de moda. Uma das razões é o facto de que a urbanidade fez perder a ligação do homem com a natureza, com a ruralidade. Muitas pessoas têm uma ideia completamente adocicada da natureza. Vêem o reino animal como uma espécie de conto de fadas, como nos desenhos animados de Walt Disney, em que todos os animais são bons, em que todos são como os gatos, carinhosos e fofinhos. É muito complicado explicar o que significa o toiro e a bravura a quem interiorizou essas ideias. É muito complicado explicar-lhes que os toiros são animais que lutam permanentemente entre si, que a luta é algo que está na sua condição de ser, de existir. Por isso, defendo que as crianças e os jovens devem contactar com o campo, com a ruralidade, têm que ver o que é o toiro de lide, a forma como os ganadeiros criam, respeitam e ama os toiros de lide. Sentimentos que são exactamente contrários à industrialização, à mercantilização, ao rendimento económico que, por exemplo, assistimos nos McDonald’s, onde os produtos do campo não são apresentados como resultado de uma actividade mas como algo que surge, sem mais nem menos. Se um adolescente tiver este contacto com a natureza e perceber que os valores ecológicos em que acredita, os encontrará muito mais na relação especifica que temos com o toiro de lide do que com outro animal domesticado ou criado. Aí poderá mudar de ideias e, em boa verdade, mudar o preconceito que tem sobre o assunto. Ou, pelo menos, ganhar uma nova consciência sobre a tauromaquia, não apoiando protestos que recorrem a argumentos básicos e preconceituosos.
Gosto e não acho que ela seja bárbara. A barbaridade aconteceria se o animal e o homem lutassem no mesmo plano de igualdade. Ou se o combate não fosse leal. A característica no combate entre o homem e o animal na tauromaquia é que ele é, ao mesmo tempo, injusto e leal. Ou seja, se fosse justo – igual entre os dois – seria absolutamente bárbaro na relação com o homem. Se não fosse leal – se fosse um espectáculo de tortura em que o animal não teria a oportunidade de combater, de lutar – aí seria bárbaro na relação com o animal. A corrida de toiros é o espectáculo da luta desigual e leal de um homem contra um animal. Um animal que é bravo. Ou seja, de um animal que, por natureza, tem esse instinto de viver livre e rebelde no campo e de querer morrer combatendo para defender o seu território e a sua vida. Por isso, a corrida de toiros é o espectáculo da vida e da morte, que nada tem de bárbaro.
Pode dizer-se que o fascínio que a corrida de toiros ainda hoje provoca tem origem na ideia que transmite do antigo guerreiro que procura morrer combatendo… Homens que hoje não lutam, encontram ali o passado guerreiro?
Obviamente, a corrida de toiros denota esses valores e virtudes antigos de Cavalaria, de combate em busca da glória do campo da batalha. Mas, ao contrário do que muitas pessoas podem pensar, a corrida de toiros, na forma que a conhecemos, nasceu no século XVIII. E a forma em uso surgiu no início do século XX. Ou seja, a corrida de toiros actual é um espectáculo ligado à modernidade. Porque representa um certo gosto por um certo tipo de expressão artística que tem a ver com a modernidade e não com a apologia da violência ou da brutalidade. É exactamente o contrário: a ritualização, a sublimação de uma violência natural. Tomemos o exemplo da morte: hoje em dia, a modernidade tem escondido cada vez mais a morte. Tem-na desritualizado. Fê-lo por vários motivos, nomeadamente a queda do sentimento religioso, da perda das relações de familiaridade com o ritual quotidiano. Justamente o que mostra a corrida de toiros é a importância da ritualização para entendermos o sentimento profundo da morte. Morte necessária do animal – porque qualquer ser vivo tem de morrer – ou da morte possível do homem. De tal forma que a corrida de toiros nada tem a ver com a apologia da guerra, que podemos encontrar na antiguidade grega ou romana – onde a violência bruta e crua era o centro da atenção. O que os aficionados gostam é do espectáculo da sublimação da violência, através da beleza do combate.
Será por isso, então, que muitos académicos e eruditos têm vindo a escrever e pensar a tauromaquia?
Sim. A corrida de toiros não teria o menor sentido se não estivesse integrada numa cultura geral. E tem-no em duas vertentes: de um lado, a cultura taurina dos povos mediterrânicos, que tem uma relação especial com o toiro de lide; do outro, a cultura no sentido mais amplo da palavra, através da pintura, da escultura, da poesia ou da literatura. Para sabermos se uma coisa é cultural ou não, basta saber se ela gera obras de outro tipo. É o caso da corrida de toiros, que sempre chamou a atenção dos criadores, dos artistas e dos pensadores. E fê-lo porque é uma arte que, ao mesmo tempo, é muito idiossincrática de certos povos e assume um valor universal, ao expressar o sentido da morte, de transformar o medo da morte em beleza, de estilizar a sua existência. A luta do toiro pela sobrevivência é, ao mesmo tempo, necessária – porque é a definição da vida – e um fracasso – porque cada vida tem por fim a morte. Por muitas razões, a corrida de toiros sempre chamou a atenção dos artistas.
Paco Aguado, jornalista da revista “6Toros6”, na sua intervenção no Fórum Mundial da Cultura Taurina, dizia que “gerações e gerações de espanhóis, portugueses, franceses e americanos, foram às praças de toiros, aprendendo ali o sentido real da vida”. Concorda com esta ideia?
Em qualquer tipo de grande expressão humana qualquer pessoa pode encontrar todos os valores e todos os sentidos da vida. Não vou dizer que a corrida de toiros é mais que as outras formas de expressão nesse sentido. Até porque cada povo tem um modo particular de expressar os seus valores e o sentido da vida. Contudo, entendo que, na relação entre o homem e o toiro, a tauromaquia teve, em certos momentos, essa capacidade. Acontece que, hoje em dia, por muitos motivos – e nem todos maus – as novas gerações têm outros modos de encontrar o sentido da vida. E, dessa forma, não reconhecem na corrida de toiros o veículo de percepção do sentido da vida. Por isso, a tauromaquia é apelidada de arcaica, antiga, etc. Mas há uma grande diferença entre a tauromaquia e as outras formas de expressão (que também têm o seu valor, muitas vezes de enorme excelência): ela sintetiza, de alguma forma, os valores do desporto (porque comporta uma expressão atlética), da arte (porque comporta uma expressão da beleza e do sublime), do rito religioso. Ou seja, a tauromaquia é uma forma artística que não pertence a um género em particular. E onde cada um pode encontrar nela um certo sentido. E que quem, realmente, gosta da corrida de toiros sabe que pode, através dela, gozar de todas as formas de valor que vai encontrar individualizados noutras formas de expressão.
O que o atrai, enquanto filósofo, na tauromaquia?
Escrevi um livro que se chama “Filosofia da Corrida dos Toiros”. E aí sintetizo esta ideia: a corrida de toiros pode dar uma certa experiência concreta de algumas ideias gerais da Ética, da Estética e, de certa forma, da Metafísica. No fundo, a tauromaquia garante a realização de algumas ideias que, como dizia Platão, só existem no plano das ideias. Por exemplo, a ideia da coragem: pode não ter uma realização dela, mas na corrida de toiros vê-se essa ideia. Mas se procurasse algo particular que me tenha ensinado a corrida de toiros, dizia-lhe o seguinte: os gregos tinham uma só palavra para designar o “Belo” e o “Bom”, a palavra “Kalos”, que significa “Admirável” – ou seja, é admirável por ser harmónica e meritória. No mundo moderno, o “Belo” é sempre separado do “Bom”. O “Belo” é o reconhecimento da estética de algo. O “Bom” é o reconhecimento de acções. Mas, na corrida de toiros, a mesma coisa, o mesmo momento, o mesmo gesto, a mesma acção é “Bela” porque é “Boa”, ou seja, porque é meritória, valorosa e, por isso mesmo, é a personificação da Beleza. Quando vê uma “suerte” em que o matador permanece imóvel, mas consegue “estendê-la”, aí reconhece a sua beleza e, ao mesmo tempo, o seu mérito. Outra perspectiva desta ideia: a “Beleza” é o uso do mínimo de meios para conseguir os máximos fins – mínimo de espaço, de tempo, de mobilidade, para conseguir o máximo de efeito sobre a investida. É justamente isso que, ao mesmo tempo, personifica o mérito do toureiro e a beleza da sorte. Isso é algo que não vejo unida em nenhuma outra forma de expressão.
Os latinos, por natureza, são um povo de sentimento, onde o coração e a emoção falam mais alto do que a razão. Como foi possível que tenham sido eles quem sublimou a morte e a violência através da ritualização da corrida de toiros? Encontra alguma justificação para isso?
Não encontro qualquer explicação para essa idiossincrasia particular desses povos. Acho que todos os povos têm uma maneira de expressar as suas emoções. No caso dos latinos, essa expressão aproveitou-se de uma relação especial que, ao longo de séculos, tiveram com o toiro. O toiro que, ao mesmo tempo, é respeitado, objecto de culto, e de projecção da suas emoções e dos seus valores enquanto ideal humano, mas também alvo de receio, de medo. Acho que é essa a razão de ser profunda que explica a presença tão forte da tauromaquia nos povos latinos. É óbvio que tudo terá ver com o modo de ser e estar desses povos. Mas, acho que a corrida de toiros, contribuiu para moderar a alma desses povos. Não será só o resultado da sua vontade de expressão da sua alma, mas também a forma que lhes foi moldando essa alma.
Vários grupos contestam as corridas de toiros, acusando-as de serem bárbaras e atentatórias dos direitos dos animais. Mas, ouvindo as suas respostas, denota-se que a corrida de toiros é muito mais do que o desafio puro e simples da razão do homem ao coração do toiro. Como poderá essa expressão, então, sobreviver a essa contestação, numa sociedade onde a urbanidade se tem vindo a tornar preponderante na escala de valores?
O anti-taurinismo tem razões profundas e, ao mesmo tempo, de moda. Uma das razões é o facto de que a urbanidade fez perder a ligação do homem com a natureza, com a ruralidade. Muitas pessoas têm uma ideia completamente adocicada da natureza. Vêem o reino animal como uma espécie de conto de fadas, como nos desenhos animados de Walt Disney, em que todos os animais são bons, em que todos são como os gatos, carinhosos e fofinhos. É muito complicado explicar o que significa o toiro e a bravura a quem interiorizou essas ideias. É muito complicado explicar-lhes que os toiros são animais que lutam permanentemente entre si, que a luta é algo que está na sua condição de ser, de existir. Por isso, defendo que as crianças e os jovens devem contactar com o campo, com a ruralidade, têm que ver o que é o toiro de lide, a forma como os ganadeiros criam, respeitam e ama os toiros de lide. Sentimentos que são exactamente contrários à industrialização, à mercantilização, ao rendimento económico que, por exemplo, assistimos nos McDonald’s, onde os produtos do campo não são apresentados como resultado de uma actividade mas como algo que surge, sem mais nem menos. Se um adolescente tiver este contacto com a natureza e perceber que os valores ecológicos em que acredita, os encontrará muito mais na relação especifica que temos com o toiro de lide do que com outro animal domesticado ou criado. Aí poderá mudar de ideias e, em boa verdade, mudar o preconceito que tem sobre o assunto. Ou, pelo menos, ganhar uma nova consciência sobre a tauromaquia, não apoiando protestos que recorrem a argumentos básicos e preconceituosos.
Publicada por
Guilherme Castanheira
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