terça-feira, fevereiro 8

O lugar da lógica e da argumentação no ensino da filosofia

«A lógica e a argumentação são áreas filosóficas fundamentais e transversais em relação ao conhecimento humano de maneira geral (e não apenas às chamadas ‘ciências sociais e humanas’), e absolutamente nucleares para a formação de um espírito crítico, dialógico e construtivo nos nossos jovens (e quiçá filhos e/ou familiares) e futuros concidadãos. São-no de uma forma incomparavelmente bem mais marcante e decisiva do que aquelas com que a matemática e as disciplinas tecnológicas, para as quais está virada hoje em dia a atenção dos media e de alguns sectores de relevo na nossa sociedade, contribuem para o efeito. Acresce que o ensino da lógica e da argumentação parece ser igualmente essencial para uma formação abrangente nas competências necessárias à própria frequência dos cursos tecnológicos, como alguns especialistas da didáctica destes têm vindo a sugerir nos últimos anos, talvez sem o impacto merecido. Mas uma apercepção clara destas ideias por parte dos agentes e instituições com responsabilidades na planificação e organização curricular do ensino secundário em Portugal, ainda não teve a expressão e alcance há muito esperados pelos filósofos directamente interessados pelo assunto. Chamar a atenção para elas, promovê-las e difundi-las dando-lhes o relevo social adequado, era um dos propósitos tanto dos organizadores do colóquio [‘O lugar da lógica e da argumentação nos programas de filosofia do ensino secundário’, Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 4-5 de Dezembro de 2009] como dos seus participantes.»

In «Prefácio».

sexta-feira, janeiro 7

”Regras para um Parque Humano” de Peter Sloterdijk (1/2)

Depois de ler este livrinho (porque é pequeno) do senhor Peter Sloterdijk fiquei entusiasmado, e decido assim partilhar. Para quem me acompanha desde sempre no blog, irá entender certamente, o teor desta belíssima obra que serviu de mote a uma conferência que o próprio deu no Castelo de Elmau, na Baviera, a 17 de Julho de 1999 faço assim, uma síntese dividida em duas partes.


Primeira parte: A Educação, como princípio transformador de uma sociedade, o inicio do Humanismo. [e Porque falhou o Humanismo?]
Peter Sloterdijk inicia assim a obra: “Os livros, disse uma vez o poeta Jean Paul, são cartas volumosas dirigidas aos amigos.” O Homem é um ser naturalmente pulsante[i], age por pulsão do seu instinto selvagem. Segundo o Humanismo clássico - “a boa leitura amansa.” Inicia-se o período de alfabetização, isto é, de humanização. O homem sai da caverna, sai da menoridade e vai ao encontro da luz. Um defeito deste modelo humanizador é que separa socialmente os que sabem dos que não sabem. O conhecimento é transformado em poder.  No humanismo clássico, o homem virtuoso é aquele que é sábio. Surge aqui um humanismo burguês, porque seria uma elite a comandar o fenómeno chamado humanização.
Na Modernidade o humanismo torna-se ele partidário e faccioso. Destacam-se três correntes: Cristão, Marxista e Existencialista. Idealmente o humanismo, que parecia ser um acto de amor, livre e calmante para servir de antídoto à pulsão humana, tornar-se-ia a médio prazo um modelo escolar e educativo que foi ultrapassado porque se tornou insustentável a ilusão de que as estruturas políticas e económicas de massas possam ser organizadas segundo o modelo amigável das sociedades literárias. O grande drama que Sloterdijk insinua é a pretensão que existe em construir uma sociedade em que o Homem seja domesticado, o que parece mais grave são as formas e métodos que muitos teóricos afirmam como ideal nesta construção de um estado social, aliás, de um parque, como se de um zoológico se tratasse, o poder de queres domesticar as ovelhas de um rebanho onde só existirá um pastor.
Como terminaria o humanismo clássico? Ora, as sociedades litúrgicas, os eruditos e os fãs dos cânones perderam influência. Aquele que se tornara pastor, isto é, o politico, o que manda, deixara de ser o sábio intelectual e domesticado. Deixou de haver uma sociedade de sábios, passando a existir uma sociedade de políticos, de gestores do património do estado. O Humanismo passou a ser encarado como uma aculturação, devido é certo, a uma crise de saberes canónicos.
Segunda parte: A essência do Humano. Heidegger em modo existencial
Heidegger propõe que deixemos de lado o humanismo como forma de educar o homem. O ideal de uma sociedade alfabetizada e literária chegou ao fim. Segundo ele, o humanismo moderno desvirtuo o homem no seu sentido mais profundo. Depois da segunda grande guerra, seria necessário examinar de forma diferente o próprio ser (dasein), seria necessário dar um sentido aberto ao homem visto que se manifesta na realidade da existência. O problema do mundo estava no próprio homem era necessário olhar só para o homem. “O homem habita na verdade do ser.”[ii]
Para Peter Sloterdijk o ideal que Heidegger tenta construir para um melhor entendimento entre o homem e a sua existência é totalmente absurdo e inconsequente, na medida em que estaria perante um “inumanismo”, ou seja, deixamos de ter presente um campo pedagógico, para passarmos a estar num campo puramente onto – antropológico, isto quer dizer; o homem aprende por ele mesmo, através da “reflexão” do ser com o próprio ser. Se o Ser é o todo em si mesmo, e a linguagem a sua morada então estaríamos automaticamente domesticados, aliás, seriamos todos puros e bons, porque não haveria acção nem confronto, dado que seriamos “autistas” dentro de um mundo “autista”.


[i] Harder, Yves-Jean, La Pulsion à Philosopher, 2006
[ii] - AA. VV., Logos, Enciclopédia Luso-Brasileira de Filosofia, 2.º Vol., Lisboa/São Paulo, Editorial Verbo, Janeiro de 1990, p. 1059


sexta-feira, dezembro 3

Alvitres para fazer uma licenciatura em filosofia sem dificuldades

Uma pequena advertência:
O que irá ser exposto aqui, é um mero exercício satírico e filosófico. O Filósofo Diógenes não está directa ou indirectamente ligado a este projecto. Qualquer personagem ou situação tem que ser entendida como mera causalidade.  
Bem - Vindos!
Quando estiverem indecisos (ou não) em qual a universidade que irão estudar filosofia, mandem um email a cada director da licenciatura a perguntar-lhe porque é que o curso naquela universidade é melhor que as outras. Se ele responder, já é um óptimo principio, e aí, deixem-se convencer pelas respostas, a melhor resposta ganha, porque é isso que vão fazer durante 3 anos, é deixarem-se convencer pelas melhores respostas.
Depois de entrarem na universidade, escolham um grupo porreiro e formem um núcleo de estudantes. Esta será a única forma de entrarem no sistema, usando a força do grupo. Mas se a universidade já possuir um núcleo melhor ainda.
Não confundam a matéria dada nas aulas com o professor. Isto dará muito jeito, na medida em que podem encontrar professores muito mesquinhos e por conseguinte a matéria irá soar mal e o vosso rendimento baixar. Por isso, respirem fundo, falem pouco nas aulas dele e plagiem o máximo que conseguirem. 
O plágio académico só é válido quando o professor é desinteressante. Nestes casos não vale a pena perder muito tempo no estudo.
As cábulas dos testes só são válidas no primeiro ano da faculdade. Depois disso torna-mo-nos desonestos intelectuais.
Cuidado com todos os didactas franceses.  Todos eles são como Napoleão, adoram proclamar-se imperadores de qualquer coisa. 
Só podes suspeitar intelectualmente de um professor, se tiveres tido mais do que um semestre com ele, e para isso não podes suspeitar sozinho. O núcleo tem que ser unânime nessa suspeita. No entanto, suspeitar de qualquer coisa é uma verdadeira perda de tempo.
Lê muito e variado. 
Dá máxima atenção aos pensadores da antiguidade e também aos medievais. Porque filosofavam enquanto pessoas e não como Deuses.
 Se não forem muito aplicados nos estudos, mas até gostarem do espírito filosófico, e tiverem dificuldades nalgumas disciplinas, não se preocupem, apliquem-se ao máximo naquelas em que se sentem melhor. Um bom aprendiz de filosofia refugia-se na tecnicidade para ofuscar a ignorância total, porque só assim, é que não são acusados de ter uma licenciatura em filosofia sem filosofia. Nalguma área da filosofia podes ser bom. É como os médicos. Há especialistas para qualquer parte do corpo.


quarta-feira, novembro 10

Colóquio Internacional «Emergência e Autonomia do Político (Tardo-Medievo e na Proto-Modernidade)»

Colóquio Internacional «Emergência e Autonomia do Político (Tardo-Medievo e na Proto-Modernidade)» no âmbito do IPF - Instituto de Filosofia Prática da Universidade da Beira Interior – Covilhã, nos dias 25 e 26 de Novembro

segunda-feira, novembro 1

Malaria No More UK: The Hunting Moon

Ora aqui está uma verdadeira campanha (acção social, ou comercial?) inovadora contra a Malaria. Somos convidados a participar, doando, ou ajudando em sugestões para o final de um "filme". No entanto, a ideia principal deste "trailer" passa por, em forma de analogia, alertar as pessoas para o alastramento sem precedentes que a doença da malaria tem em África. A ideia foi simples. Um grupo de jovens Ingleses foram passar férias a África, mas logo se vêm confrontados com uma criatura sugadora de sangue, que tipo de criatura será esta? Achei bastante curiosa a organização e produção de uma iniciativa destas. A parte didáctica do projecto é desenvolvida de forma não exageradamente alarmista, mas que por sua vez atinge os seus objectivos informativos. 

Este projecto é um bom exemplo das boas práticas das industrias criativas, que já nos habituaram a uma manipulação quase declarada. Neste caso, e não por ser para fins humanitários,  os objectivos são simples: Informar os mais jovens e por conseguinte os seus pais, Nunca esquecendo que África é já ali ao lado e que existem pessoas que vivem todos os dias o mesmo horror que o trailer demonstra. Por que não ter medo? A ficção, neste caso, não é mais que uma pequena alteração de personagens, isto porque o cenário é o mesmo e todos fazemos parte dele. 


sábado, outubro 30

Alain de Botton - O Sr. que vê Filosofia em tudo que é sitio de novo em Cinema

Já se encontra disponível para visualização online o filme My Last Five. Para quem já leu, admira, ou acha interessante o que o Sr. Alain de Botton faz com a filosofia (adapta a filosofia à vida quotidiana ) aqui está mais uma produção baseada num dos seus primeiros livros -Ensaios de amor.

Podem fazer o download aqui ou ver on-line e legendado aqui e ainda podem ler o livro comprando aqui

terça-feira, outubro 19

Onde é que eu já vi isto? [MINI Getaway Stockholm 2010]



Numa altura em que a industria dos video jogos tem mais lucro que a cinematográfica, este spot publicitário apresenta-se como uma nova tendência de Marketing do futuro. Sim, porque marketing desta forma e conceito só visto mesmo no cinema. Depois disto, não se deixem "espantar" pelo precedente transformista que a nova vaga de divertimento "fora de casa" vai trazer. Algo de grandioso irá aparecer num futuro muito muito próximo. Vejam também este trailer (AQUI)

quarta-feira, setembro 15

E assim nascem os Sofistas!

O que relato aqui é um excerto de uma conversa que tive com um director de um centro de formação pertinho da minha terra:

“A ideia principal é a motivação! Não interessa se és bom ou não a Filosofia, o mais importante é a maneira como dás a matéria. Sê motivador o suficiente e até mecânica podes dar, tens é que motivar os putos a aprender”

+ acerca dos sofistas aqui

quarta-feira, julho 14

Os novos "intelectuais" culturais são por natureza própria faits dívers

Faits divers (pronuncia-se fé-divér; em francês, literalmente, "fatos diversos") é uma expressão de jargão jornalístico e, por extensão, um conceito de teoria do jornalismo que designa os assuntos não categorizáveis nas editorias tradicionais dos veículos (política, cidade, polícia, economia, internacional, esportes e outros).

São fatos desconectados de historicidade jornalística, ou seja, referem-se apenas ao seu caráter interno e seu interesse como fato inusitado, pitoresco. Em geral, remetem a temas considerados "leves", curiosos, não muito sérios e sem comprometer seriamente ninguém. Em inglês, matérias de faits-divers são chamadas de features.



terça-feira, julho 13

Alabama 3 - Porque raio não vamos mais vezes a Goa?


Alabama 3 was one of the oddest musical outfits to arise from late-'90s London, but also one of the most original. The band's origins are shrouded in urban myth -- the band likes to claim that the three core members met in rehab, while their Southern accents have many believing they are from the U.S. state of Alabama, although it appears vocalists Rob Spragg and Jake Black met at a London rave when Spragg heard Black singing Hank Williams' "Lost Highway." Bonding, they set out about creating an agenda of Americana, electronica, leftist politics, and laughter. Joined by DJ Piers Marsh, the trio issued two 12" dance singles that combined their interest in gospel and country music, yet these went over the heads of the London dance scene. In Italy, where Spragg and Black began singingHowlin' Wolf songs over Marsh mixes, the idea of the band began to take shape and back in Brixton, South London, they recruited a crew of musicians to shape their vision. This, combined with brilliantly theatrical live shows, meant the band attracted a huge South London following long before they had a record deal.

sábado, julho 10

Talentos emergentes em Angra do Heroísmo


As diferenças culturais ajudam muito na interacção entre a criatividade e a produção artística. Uma não pode fugir da outra. Quem produz arte, renuncia - na grande maioria dos casos - ao espírito social, ou seja, ao que é convencional. Não existe defeito nenhum em ver pessoas com o cabelo pintado de arco íris, nem tampouco uma pessoa cheia de tatuagens. Não deve existir preconceitos, na medida em que são essas diferenças pouco convencionais que nos impelem para o patamar do fantástico, do diferente, do criativo não convencional. Cultura e Arte são tão diferentes como a água do vinho. A Arte promove a expressão cultural. é a linguagem do individuo como - Ser autónomo. Angra do Heroísmo é uma cidade rica culturalmente, mas muito pobre artisticamente, talvez porque, nunca se conseguiu desmarcar do convencional social. Os Promotores culturais não conseguem revelar a individualização lúcida da cultura e da arte. Cultura existe em todo o lado, mas é na arte que reside um projecto dinâmico que constrói a sociedade, podemos mesmo dizer que se trata do elixir das virtudes humanas. O ensino artístico é tão antagónico que consegue corromper tudo e todos. Passo já a explicar: Existem politicas de incentivo sociais, em que se promove os naturais Terceirenses a ficarem na sua terra e a construírem um projecto. No entanto, temos uma escola artística (Tomás de Borba) que ensina jovens a perceberem a sua vocação artística e quando o conseguem eles partem para outro lugar, lugar esse onde aperfeiçoam a sua arte, mas incapacitados por falta de compreensão social e profissional, nunca mais voltam. Em suma: Andamos este tempo todo a promover os nossos jovens a sair da Ilha. Quando descobrimos que um dos nossos se "safou" lá fora, ficamos todos contentes com essa ideia que até gostamos de publicar nos meios sociais regionais o seu feito. Atenção, refiro-me neste caso particular a pessoas transversais à sociedade (Desporto, politica, arte etc...).
Não há problema nas pessoas saírem para aperfeiçoar a sua vocação, mas é preciso estarmos atentos nas vocações que por aí andam. Eu cá conheço algumas, hoje vou divulgar oficialmente uma. Aqui está ela: Chama-se Catarina Melo, quer seguir dança e gosta de fotografia. Interessante esta ideia de polivalência artística. Um artista quando o é na realidade, é um individuo completo, e aqui em Angra, temos um(a). Podem contemplar alguns trabalhos dela AQUI. Saber se no futuro ela fica cá ou só volta nas férias, bem... isso depende de todos nós.


quinta-feira, abril 22

Angra do Heroísmo - Cinema e muita Filosofia


A festa do pensamento humano vai estar patente em dois momentos únicos. O CCCAH organiza um ciclo e um debate em que o Cinema irá servir de mote à reflexão humanizada e socialmente mediática. O Ciclo de cinema "Nos Caminhos do Homem, o elemento espiritual no cinema" irá tentar levar o espectador a uma identificação do próprio - Ser. Já em Abril, a Culturangra EEM (CCCAH) vai espicaçar os Angrenses numa matéria que faz parte de um passado relevante e mediatizado pelas características peculiares dos Açores.
Basta clicar nas imagens para visualizar melhor os cartazes.


quinta-feira, abril 8